NVIDIA se torna a primeira empresa do mundo a valer US$ 5 trilhões

NVIDIA se torna a primeira empresa do mundo a valer US$ 5 trilhões

Gigante dos chips quebra recorde histórico impulsionada pela corrida da inteligência artificial e por promessas bilionárias de demanda até 2026


A NVIDIA alcançou um feito inédito no mercado financeiro global ao ultrapassar a marca de US$ 5 trilhões em valor de mercado, consolidando-se como a empresa mais valiosa do planeta. O marco foi atingido nesta quarta-feira, 29 de outubro, após uma alta de 3% nas ações, que encerraram o pregão a US$ 207,16. O resultado coroa uma escalada vertiginosa que começou com o boom da inteligência artificial e transformou a fabricante de chips no principal símbolo da nova era tecnológica.

A valorização expressiva ocorre apenas quatro meses depois de a empresa ultrapassar US$ 4 trilhões, em julho, e reflete um avanço superior a 50% no acumulado de 2025. A ascensão da NVIDIA é um dos fenômenos mais rápidos e consistentes da história recente de Wall Street, sustentada por uma demanda global explosiva por chips de IA e por uma sucessão de anúncios estratégicos que ampliaram sua presença em diversos setores.

Demanda bilionária e novos contratos de supercomputação

O primeiro grande impulso veio das declarações do CEO Jensen Huang durante a GPU Technology Conference (GTC) em Washington, realizada na terça-feira. O executivo revelou que a empresa possui US$ 500 bilhões em pedidos confirmados de chips de IA com entrega prevista até o final de 2026, um número sem precedentes na indústria de semicondutores. Esse volume colossal de encomendas garante à NVIDIA uma previsibilidade de receita raramente vista em empresas de tecnologia.

Huang também anunciou uma parceria estratégica com o Departamento de Energia dos Estados Unidos para a construção de sete supercomputadores de nova geração, um deles equipado com 10 mil GPUs Blackwell, o chip mais avançado da empresa até o momento. Além disso, a NVIDIA investirá US$ 1 bilhão na Nokia para colaborar no desenvolvimento da tecnologia 6G, movimento que reforça sua intenção de expandir sua atuação para além do mercado de IA, atingindo também telecomunicações e infraestrutura digital global.

Política e tecnologia impulsionando o valor

Outro fator que estimulou o otimismo do mercado foi o sinal político positivo vindo da Casa Branca. O presidente Donald Trump declarou que pretende discutir com o líder chinês Xi Jinping a possível liberação da exportação dos chips Blackwell para a China, um mercado considerado vital para o crescimento da NVIDIA e onde a empresa enfrenta restrições desde 2023 por questões de segurança nacional. Trump afirmou que o Blackwell está “provavelmente 10 anos à frente de qualquer outro chip”, comentário que foi suficiente para acender expectativas sobre uma reaproximação comercial entre as duas maiores economias do mundo. Caso as restrições sejam suspensas, a NVIDIA poderá recuperar uma fatia bilionária de receita que havia sido comprometida pelas sanções.

O sucesso da NVIDIA reflete diretamente a corrida mundial pela inteligência artificial, acelerada desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022. Desde então, as ações da empresa multiplicaram seu valor por doze, saltando de uma capitalização de mercado de US$ 400 bilhões para mais de US$ 5 trilhões. Hoje, a companhia vale mais do que todas as suas concorrentes de semicondutores somadas, incluindo Broadcom, TSMC, AMD, ASML, Micron, Qualcomm, Intel e Arm. Atualmente, apenas Microsoft e Apple permanecem em patamar próximo, ambas avaliadas em torno de US$ 4 trilhões. Para efeito de comparação, o valor da NVIDIA representa metade do índice europeu Stoxx 600 e supera todo o mercado global de criptomoedas, um feito que evidencia o tamanho do impacto da inteligência artificial nos mercados financeiros.

O homem por trás do império

Fundada em 1993 por Jensen Huang, Chris Malachowsky e Curtis Priem, a NVIDIA nasceu como uma desenvolvedora de processadores gráficos voltados para jogos. Três décadas depois, transformou-se em um pilar da infraestrutura tecnológica moderna, fornecendo o hardware essencial para sistemas de IA, data centers e computação científica. Huang, que nasceu em Taiwan e se mudou para os Estados Unidos aos 9 anos, hoje figura entre os dez homens mais ricos do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 179,2 bilhões, segundo a Forbes.

A trajetória de Huang é frequentemente citada como símbolo do empreendedorismo visionário do Vale do Silício. Sob sua liderança, a NVIDIA redefiniu o papel dos chips gráficos, transformando-os em motores de aprendizado de máquina e IA generativa, tecnologia que hoje sustenta plataformas como ChatGPT, Gemini e Copilot. Apesar do entusiasmo, alguns analistas começam a expressar cautela. A rápida concentração de valor em poucas empresas de IA levanta temores de uma nova bolha tecnológica, semelhante à dos anos 2000.

“O crescimento atual da IA depende de um ecossistema pequeno de empresas que se impulsionam mutuamente. Se o mercado começar a exigir lucros tangíveis em vez de expectativas, esse momentum pode ruir”, alertou Matthew Tuttle, CEO da Tuttle Capital.

Os números ilustram a magnitude dessa dependência: segundo Jason Furman, professor de economia em Harvard, os investimentos em data centers (dominados por chips NVIDIA) responderam por 92% do crescimento do PIB dos EUA no primeiro semestre de 2025. Sem esse setor, a economia americana teria avançado apenas 0,1% no período, revelando o grau de impacto que a empresa exerce sobre a atividade econômica global.

O futuro da NVIDIA e a sustentabilidade do boom da IA

A questão central agora é se a inteligência artificial realmente entregará ganhos de produtividade sustentáveis para justificar tamanha valorização. Embora as aplicações em automação, biotecnologia e pesquisa científica estejam em expansão, os retornos financeiros concretos ainda são incertos. O mercado, no entanto, segue apostando no otimismo e a NVIDIA é a principal beneficiária dessa fé coletiva na revolução da IA. O feito de alcançar US$ 5 trilhões não é apenas um número simbólico.

Representa a consolidação da NVIDIA como o epicentro de uma transformação econômica e tecnológica global. Mas também reforça a pergunta que começa a inquietar investidores e reguladores: até que ponto a euforia com a inteligência artificial reflete valor real e não apenas expectativas infladas? Enquanto o mercado busca essa resposta, a NVIDIA continua no centro do palco, definindo o ritmo da era da computação inteligente e estabelecendo novos limites para o que significa ser uma gigante da tecnologia.