Durante a Brasil Game Show 2025, tive a oportunidade de jogar Resident Evil: Survival Unit, o novo projeto mobile da Capcom em parceria com a Aniplex e a JOYCITY. Saí da demo com uma sensação amarga. O jogo tenta ser tudo ao mesmo tempo — estratégia em tempo real, fan service, experiência mobile — e acaba não sendo convincente em nenhum desses aspectos.
Os personagens parecem gerados por inteligência artificial, com expressões robóticas e uma mistura de estilos visuais que destoam completamente entre si. Pior: o crossover de personagens de várias fases da franquia surge sem lógica narrativa clara. É um fan service sem pé nem cabeça, e no fim, a impressão é de um projeto que usa o nome Resident Evil mais como rótulo do que como identidade.
“Transformar o medo em tensão estratégica”
Durante o evento, o site Critical Hits conversou com Shinji Hashimoto, produtor executivo do jogo. Ele explicou que a proposta de Survival Unit é traduzir o terror clássico para o formato mobile, trocando o medo atmosférico pela tensão estratégica — decisões em tempo real, gerenciamento de munição, energia e sobreviventes, e o risco de perder unidades ou recursos essenciais.
Na prática, porém, essa “tensão” não se sustenta. O que deveria transmitir desespero e sobrevivência vira uma sequência de toques automáticos e menus genéricos, como em tantos outros títulos mobile de estratégia. Falta peso, falta imersão, falta Resident Evil.
Uma mistura de ideias que não se conectam
Hashimoto reforça que o projeto nasceu da necessidade de preservar o DNA da série — atmosfera opressiva, recursos limitados e perigo constante — adaptado às dinâmicas do celular. No papel, faz sentido. Na demo que joguei, tudo soa desconectado.
Os visuais variam demais entre personagens, como se viessem de jogos diferentes jogados no mesmo tabuleiro. A interface é poluída, a movimentação é engessada e a ausência de uma narrativa coesa deixa a pergunta: por que isso se chama Resident Evil? Até som e trilha — pilares da série — parecem genéricos. A tentativa de transformar o áudio em elementos visuais (vibração, flashes, indicadores) resulta em algo frio e impessoal, sem impacto emocional.
Capcom, Aniplex e JOYCITY: três visões, um jogo sem direção
Hashimoto cita o desafio de integrar a Capcom (terror e narrativa), a Aniplex (jogos de rede) e a JOYCITY (serviços online e balanceamento). Segundo ele, meses de ajustes foram feitos para alinhar ritmo, progressão e acessibilidade. Jogando a demo, a sensação é de um produto sem identidade clara: quer ser estratégico, mas não é tático; quer ser tenso, mas não assusta; quer ser Resident Evil, mas soa genérico com skin de franquia famosa.
Ambição existe — mas precisa de muito mais
Inovar dentro de uma IP consagrada é arriscado, e isso merece crédito. Porém, Resident Evil: Survival Unit parece perdido entre a vontade de ser novo e o medo de desagradar fãs. A demo que joguei na BGS 2025 deixa a impressão de um projeto que ainda não encontrou seu tom — nem como jogo mobile, nem como parte legítima do universo Resident Evil.
Se a Capcom quiser evitar que Survival Unit vire apenas mais um spin-off esquecido, vai precisar redefinir prioridades: coesão visual, clareza narrativa e mecânicas que sustentem a promessa de “tensão estratégica” sem abrir mão da alma de Resident Evil. Por enquanto, a experiência entrega mais confusão do que tensão — e mais decepção do que terror.
Por RodLink
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