Um soulslike chinês envolvente, desafiador e cheio de estilo
O ano de 2025 vem sendo generoso para os fãs de soulslikes. Depois de títulos como The First Berserker: Khazan e a expansão Lies of P: Overture, chegou a vez de Wuchang: Fallen Feathers, o primeiro grande projeto do estúdio chinês Leenzee, publicado pela 505 Games. Um jogo que não reinventa a roda do gênero, mas entrega uma experiência sólida, com pontos altos no combate, builds variadas e ambientação marcante — ainda que tropece em algumas escolhas de design. Quero agradecer a 505 games que concedeu a Key do jogo para produção de conteúdo e esta Review.
–Wuchang, a personagem principal do jogo.
História e Ambientação
A trama se passa durante a dinastia Ming, período histórico da China marcado por guerras internas e conflitos sociais. A protagonista, Wuchang, desperta sem memórias em uma caverna, marcada pela Plumagem, uma praga misteriosa que causa febre, amnésia e, em estágios avançados, transforma pessoas em monstros emplumados.
O fio narrativo segue o estilo clássico dos soulslikes: fragmentado, indireto e repleto de simbolismos. Wuchang busca respostas sobre sua própria identidade, enquanto descobre os segredos da Plumagem e a origem da maldição. A narrativa é instigante, mas exige atenção redobrada a diálogos esparsos e descrições de itens, já que muitas revelações não são entregues de forma direta.
A ambientação contribui muito para a imersão: vilas destruídas, florestas nevadas repletas de armadilhas, cavernas tóxicas e templos sombrios formam um mundo que transita entre o belo e o grotesco. Pequenos detalhes, como NPCs reagindo à presença da praga e até mesmo o menu inicial mudando de aparência conforme a progressão, reforçam o clima sombrio e bem trabalhado.
– O jogo conta com uma ambientação bem única e imersiva.
Exploração e Level Design
O jogo adota uma estrutura semiaberta, com áreas interconectadas e muitas bifurcações. Há segredos, chefes opcionais, armas escondidas e NPCs espalhados por rotas alternativas. Isso incentiva a exploração, mas também gera problemas:
- Não há mapa interativo, o que torna fácil se perder.
- O level design é confuso em alguns pontos, com corredores similares e caminhos pouco sinalizados.
- O excesso de “pegadinhas” e armadilhas pode cansar, já que a sensação é de que o jogo está constantemente tentando pregar peças no jogador.
Apesar dessas críticas, a variedade de cenários impressiona. Áreas como o vilarejo tomado pela Plumagem, cavernas cheias de gás venenoso e regiões congeladas com minas escondidas são marcantes e transmitem a sensação de perigo constante.
Mecânicas e Progressão
Um dos pontos mais fortes do jogo está no seu sistema de progressão. Em vez de apenas aumentar atributos, Wuchang: Fallen Feathers traz uma árvore de habilidades imensa, com múltiplos caminhos que permitem desenvolver desde estilos de armas até magias da Plumagem.
Os principais destaques:
- Cinco estilos de armas: espada longa, espada curta, lâminas duplas, lança e machado.
- Disciplinas: habilidades especiais que podem ser equipadas nas armas, mudando combos e efeitos.
- Plumagem: ramificação voltada para magia e feitiços.
- Respe gratuito: é possível refazer sua build sem custo, incentivando experimentação.
- Sistema de Loucura: morrer ou matar inimigos aumenta sua barra; cheia, ela dá bônus de dano, mas também aumenta o dano recebido. Caso morra nesse estado, um demônio extremamente poderoso nasce no local da sua morte, trazendo tensão extra.
Esse conjunto dá ao jogador uma liberdade rara dentro do gênero, tornando cada build única e adaptável.

Combate
O combate mistura elementos familiares dos soulslikes com inovações próprias.
- A esquiva é substituída pelo Cintilo, um dash que, se usado com precisão, gera Poder Celeste (Skyborn Might), recurso essencial para habilidades e magias.
- O parry tem papel central, capaz de quebrar combos de chefes e abrir brechas em batalhas mais difíceis.
- O jogador pode alternar armas em pleno combo, ampliando ainda mais as possibilidades de estratégia.
Esse dinamismo torna cada luta única e dá variedade ao combate. No entanto, há ressalvas:
- Alguns chefes têm janelas de ataque extremamente curtas, dificultando o contra-ataque e alongando demais certas batalhas.
- O delay para usar poções é exagerado, muitas vezes punindo mesmo quando o inimigo está longe.
- O equilíbrio da dificuldade oscila: os primeiros chefes quase funcionam como tutoriais, mas os últimos são picos abruptos de desafio.
Ainda assim, derrotar um boss e obter seu Eco, que concede novas habilidades e feitiços, traz a satisfação típica do gênero e incentiva avançar cada vez mais.

Inimigos e Desafios
A variedade de inimigos é outro ponto positivo. Há desde pequenas criaturas capazes de emboscadas mortais até aberrações gigantes que funcionam como minibosses. Cada região introduz novas ameaças, exigindo que o jogador mude sua abordagem constantemente.
A dificuldade, entretanto, não vem apenas dos inimigos:
- Ambientes com poças venenosas, gás tóxico e armadilhas mortais se tornam obstáculos por si só.
- Há seções que lembram até jogos de terror, com perseguições, status de morte instantânea e inimigos que criam tensão apenas com a presença.
Desempenho e Visuais
Rodando na Unreal Engine 5, o jogo impressiona nos visuais. A direção de arte capta bem a transição da China histórica para o sombrio universo de fantasia, com cenários que variam entre belas paisagens e grotescas distorções da Plumagem.
No PS5, o jogo mantém 60 FPS estáveis em modo desempenho. Já no PS5 Pro, há três modos: Qualidade, Equilibrado e Desempenho, chegando até 80 FPS. Durante a jogatina, não enfrentei problemas significativos de performance, o que é um ponto positivo diante da complexidade gráfica.

Trilha Sonora
A trilha sonora é discreta, mas eficaz. Durante a exploração, reforça o clima melancólico da China devastada. Nos combates, acelera o ritmo e amplifica a intensidade das bossfights. Não chega a ser memorável no mesmo nível de outros jogos do gênero, mas cumpre bem o papel de imersão.
Conclusão
Wuchang: Fallen Feathers não é um marco no gênero, mas é um soulslike competente e divertido. A liberdade para experimentar builds, a variedade de inimigos e a ambientação inspirada tornam a experiência envolvente e satisfatória.
Com mais polimento em áreas como level design e equilíbrio de chefes, poderia alcançar patamares ainda maiores. Mas, como estreia da Leenzee, é um projeto digno de atenção e um excelente acréscimo à biblioteca de quem busca desafios intensos.