Review – The First Berserker: Khazan (PS5)

Review – The First Berserker: Khazan (PS5)

Poucos jogos conseguem ser tão brutais e, ao mesmo tempo, recompensadores quanto The First Berserker: Khazan. O primeiro RPG single-player ambientado no universo de Dungeon & Fighter carrega uma alma que mistura influências claras de títulos como Nioh, Sekiro e Devil May Cry, mas sem perder sua própria identidade — mesmo que em alguns momentos ela seja ofuscada pela inspiração excessiva em seus antecessores.

Desenvolvido pela Neople e publicado pela Nexon, o game não esconde suas ambições: ser um soulslike acessível, porém desafiador, com combates intensos e uma história de vingança que foge do clichê da “civilização em ruínas”, muito comum no gênero.

História e ambientação: vingança em meio ao colapso de um império

Khazan era o grande general do império Pell Los, um herói que, ao lado do mago Ozma, derrotou o temível dragão Hismar. Porém, a inveja do imperador virou glória em traição. Torturado e exilado, Khazan é salvo da morte por um pacto sombrio com o Blade Phantom — um espírito que despreza a humanidade, mas se vê preso a um protagonista que ainda acredita em honra e conexão.

Esse embate de personalidades é interessante e traz ótimos diálogos, mas é subaproveitado. O enredo traz reviravoltas boas, explora facções e o submundo da mitologia local, mas carece de desenvolvimento de personagens secundários e profundidade emocional para realmente marcar. Ainda assim, o sistema de mapa de relações entre os personagens e os detalhes do universo ampliam a experiência para quem busca mais lore.

Estrutura e level design: do banal ao memorável

O design das fases começa simples — quase decepcionante — com mapas lineares e poucos segredos. Mas, conforme a campanha avança, a complexidade cresce. Missões posteriores apresentam níveis com verticalidade, atalhos, paredes secretas e áreas opcionais, elevando a experiência ao que se espera de um grande soulslike.

A base estrutural lembra fortemente Nioh 2, com missões selecionáveis em um hub (The Crevice) que funciona como ponto seguro e centro de upgrades. É eficiente e organizado, mas perde a sensação de mundo interconectado que outros jogos do gênero oferecem.

Combate: onde o jogo realmente brilha

Se a exploração não impressiona sempre, o combate é o oposto. Khazan entrega lutas viscerais e estilosas que, por vezes, beiram o hack and slash. São três armas principais — espadão, lanças e lâminas duplas — que definem totalmente o estilo de jogo. Trocar entre elas é praticamente assumir outra classe.

O sistema de Spirit Points e as árvores de habilidades permitem criar combos devastadores e ataques especiais com direito a burst counters que lembram Nioh. Apesar de algumas habilidades serem claramente superiores, a possibilidade de redistribuir pontos sem custos incentiva a experimentação.

A variedade de equipamentos também agrega. Conjuntos de armaduras liberam habilidades únicas, e os Phantoms oferecem bônus passivos, criando builds versáteis — embora a customização não seja tão profunda e a rejogabilidade acabe limitada.

Chefes e inimigos: onde a dor vira prazer

Aqui está o verdadeiro espetáculo do jogo. Com mais de 80 inimigos diferentes e chefes incrivelmente desafiadores e bem desenhados, Khazan testa os limites do jogador. No início, as lutas são desmoralizantes — especialmente nas primeiras missões. Mas, com o tempo, cada morte se torna aprendizado.

As batalhas, que misturam padrões telegráficos e ataques brutais, acabam se tornando o grande atrativo. Poucos jogos conseguem fazer o jogador sair de um ponto de frustração para um estado de êxtase ao derrotar inimigos que pareciam impossíveis minutos antes.

Um soulslike que se aproxima mais da Team Ninja — e os bugs do lançamento

Apesar de ser chamado de soulslike, The First Berserker: Khazan se alinha mais com o estilo dos jogos da Team Ninja, como Nioh e Wo Long, do que com os títulos mais tradicionais da FromSoftware. A estrutura em missões, o ritmo mais acelerado do combate e a personalização profunda fazem com que a experiência remeta muito mais a esses títulos orientados para ação frenética e builds versáteis do que à cadência lenta e meticulosa de um Dark Souls.

Aqui, as batalhas são ágeis e brutais, os inimigos surgem em grupos desafiadores e as armas definem completamente o estilo de jogo do jogador. A presença de mecânicas como parry, burst counters e árvores de habilidades reforçam ainda mais essa herança mais próxima de Nioh, oferecendo um combate visceral que, por vezes, se aproxima até mesmo de um hack and slash.

No entanto, no lançamento, Khazan também enfrentou seus próprios demônios na forma de bugs. Um dos mais frustrantes para quem busca a platina era o troféu “Countless Tales”, que exigia completar todas as missões secundárias — porém, caso o jogador desligasse o videogame ou apertasse o botão PS durante o progresso, o troféu poderia bugar e não ser desbloqueado, forçando uma maratona sem pausas para garantir a conquista.

Outro erro notório envolvia o chefe Hismar: se o jogador utilizasse um item arremessável enquanto o boss estava voando, ele travava no ar e perdia metade da vida instantaneamente, quebrando completamente a luta. Felizmente, esses problemas já foram corrigidos com patches, mas foram um obstáculo considerável para quem enfrentou o jogo nas primeiras semanas.

Visual, áudio e performance: estilo acima da técnica

Graficamente, o jogo aposta em um cel-shading estiloso com paleta sombria, enfatizando tons de preto e vermelho que combinam com a narrativa trágica. Às vezes, o visual pode parecer lavado em algumas áreas, mas nas lutas e nos efeitos das habilidades, o espetáculo é garantido.

A trilha sonora é boa, mas não memorável, ficando um nível abaixo de obras como Lies of P. O destaque fica para a excelente dublagem, com nomes como Anthony Howell (Margit) e Ben Starr (Clive de Final Fantasy XVI) dando vida aos personagens.

A performance é sólida, mesmo em momentos de caos. Em configurações altas, o jogo roda liso, com pequenos engasgos apenas nas últimas fases — nada que comprometa.

Valor e replayability: vale o preço, mas não por muitas voltas

Com uma campanha de 40 a 80 horas, dependendo da sua habilidade, Khazan entrega um conteúdo generoso para o preço de lançamento. Há um New Game+ com novos itens e armas elementais que renovam o gameplay, mas o sistema simplificado de builds limita a vontade de rejogar indefinidamente.

Ainda assim, experimentar as diferentes armas já garante pelo menos duas jogatinas completamente distintas.


Veredito

The First Berserker: Khazan é um exemplo brilhante de como um estúdio pode estrear no gênero Soulslike já atingindo um nível altíssimo de qualidade. A história tem falhas, a exploração não é revolucionária e a customização poderia ser mais profunda, mas o que importa aqui — o combate e os chefes — é excepcional.

Quem busca um desafio brutal, visual impactante e lutas que exigem precisão e paciência encontrará um dos melhores representantes do gênero nos últimos anos. Prepare-se para sofrer, aprender e, por fim, saborear a glória da superação.


Agradecemos imensamente à Theogames e NEXON por gentilmente fornecer a chave do jogo, tornando possível a realização desta análise.


The First Berserker: Khazan.

The First Berserker: Khazan é um exemplo brilhante de como um estúdio pode estrear no gênero Soulslike já atingindo um nível altíssimo de qualidade. A história tem falhas, a exploração não é revolucionária e a customização poderia ser mais profunda, mas o que importa aqui — o combate e os chefes — é excepcional. Quem busca um desafio brutal, visual impactante e lutas que exigem precisão e paciência encontrará um dos melhores representantes do gênero nos últimos anos. Prepare-se para sofrer, aprender e, por fim, saborear a glória da superação.
9
Must Play