Introdução
O Metal Gear Solid Delta: Snake Eater surge como uma releitura fiel e carinhosa de um dos pilares da franquia, lançado em 2025 para resgatar a essência de um clássico de 2004 em meio ao caos da indústria atual. É um projeto que equilibra reverência e modernização, ideal para quem busca reviver emoções antigas com toques contemporâneos, embora desperte debates sobre se era realmente necessário ou apenas uma jogada nostálgica segura. No fim das contas, ele acerta em reconectar jogadores com o que há de mais cativante na série: tensão, drama e um toque de absurdo que define o legado de Hideo Kojima.
![]()
História
A narrativa permanece intocada, ancorada na Guerra Fria com Naked Snake em uma missão tortuosa na selva soviética para evitar um desastre nuclear. É um conto cinematográfico que mescla seriedade pesada com irreverência excêntrica, criando personagens memoráveis e dilemas morais que ainda ecoam forte. O ritmo inicial é deliberadamente lento, com cutscenes longas e exposições históricas que constroem imersão, mas podem testar a paciência de novatos ansiosos por ação. Os diálogos, cheios de quirks e momentos cômicos involuntários, envelheceram de forma polarizante – o que para alguns soa charmoso e hilário, para outros vira cringe puro. No geral, é uma história que continua a enfeitiçar, revelando camadas emocionais mais profundas com as atualizações visuais, reforçando por que Snake Eater é o coração pulsante da saga.
![]()
Gameplay
O cerne do stealth survival brilha com refinamentos que tornam a experiência mais fluida sem trair suas raízes. Os controles modernos, com câmera over-the-shoulder e transições suaves entre posturas, facilitam a mira precisa e o movimento tático, enquanto opções legacy preservam o desafio original para puristas. A camuflagem, caça por comida e interrogatórios de inimigos criam tensão palpável, com IA mais atenta a rastros e ruídos que eleva o risco de detecção.
No entanto, no remake é notável que às vezes a IA dos inimigos não parece tão responsiva, apresentando as mesmas falhas do jogo original, onde alguns inimigos não são alertados direito ou não percebem alguma ação sua mesmo estando perto deles – o que particularmente acho que deveria ter sido melhorado, principalmente falando de um remake que poderia se aproveitar da oportunidade de refinar esses pontos técnicos ou quem sabe atualizar; no geral, parece um jogo com gráficos novos, mas com limitações técnicas de IA de três gerações atrás.
Qualidade de vida como bússola integrada, atalhos para itens e autosaves rápidos aliviam frustrações antigas, mas resquícios como câmera propensa em gramados ou um sistema de cobertura pegajoso ocasionalmente irritam. Chefes icônicos perdem um pouco de dificuldade para veteranos, mas o foco em abordagens criativas – de tranqüilizantes a armadilhas ambientais – mantém o jogo fresco e recompensador, provando que stealth puro ainda supera os híbridos modernos.
![]()
Trilha sonora
A trilha original é mantida intacta, com suas melodias orquestrais que capturam a vastidão da selva e a melancolia da traição, servindo como pano de fundo perfeito para momentos de introspecção e caos. No entanto, a regravação da faixa-título “Snake Eater” divide opiniões: a nova versão, com performance vocal impecável, soa deslocada e menos impactante, especialmente em cenas icônicas como a escalada da escada, onde o timing parece desalinhado. É um tropeço menor em um conjunto sonoro que, de resto, evoca nostalgia imediata e intensifica a imersão, sem ousar inovar além do essencial.
![]()
Comparação com a versão clássica
Diferente de remakes radicais como Resident Evil, Delta é uma reconstrução respeitosa que preserva 90% da estrutura original, evitando adições narrativas ou mecânicas que poderiam diluir a visão autoral. Os visuais em Unreal Engine 5 transformam a selva em um espetáculo vivo, com folhagem densa, ciclos dia-noite e detalhes faciais que realçam expressões sutis, superando as limitações do PS2 sem alterar coreografias ou segredos. Apesar de rodar no moderno motor gráfico da Unreal Engine 5, parte da identidade visual e da palheta de cores do jogo original se perde em um cenário e em uma floresta que transmite uma sensação comum de cenários de Unreal Engine 5, o que pode desagradar fãs da estética visual marcante e distinta dos jogos de Hideo Kojima.
Controles atualizados resolvem dores de cabeça como mira fixa, tornando-o mais acessível que as reedições HD, enquanto extras como minijogos restaurados e novos disfarces homenageiam fãs hardcore. No entanto, apesar de ser um remake 1:1, isso de certa forma desagrada por esperar novidades dentro desse remake; atualmente, foram lançados remakes de jogos queridos como Silent Hill 2, que mantêm boa parte essencial da base do jogo original, mas se aprofundam em melhorar mecânicas de jogo, exploração e dar mais detalhes na narrativa. Até os casos de remakes um pouco mais conservadores, como o de Dead Space, se provam uma ideia melhor ao deixar o jogo 1:1, mas evoluir a sua gameplay, exploração e deixar o jogo mais atual como um todo para a nova geração de consoles.
O que às vezes eu não sinto isso ao jogar Metal Gear Solid Delta, que me passa uma sensação de um remake que teve receio de ser mais ousado e evoluir, talvez por receio de alterar algo do legado de Kojima, mas ainda sim acredito que boas melhorias nunca seriam questionáveis. É menos uma revolução e mais uma restauração luxuosa, que eleva o clássico para padrões atuais sem apagar sua alma excêntrica – ideal para revisitar sem medo de decepção.

Desempenho
Visualmente, é um banquete: selvas vibrantes com grama realista, sujeira acumulada em Snake e iluminação dinâmica que varia de sol exposto a noites opressivas, criando uma atmosfera soviética autêntica e tensa. No PS5, roda suave em 4K a 30 FPS no modo qualidade, com quedas mínimas em transições, enquanto o modo performance prioriza 60 FPS em resolução dinâmica, embora com texturas mais borradas. No PC, problemas como travamentos aleatórios, warping em movimentos rápidos e stuttering em cutscenes demandam patches urgentes, especialmente sem otimizações ideais no lançamento.
Além disso, existe uma particularidade onde o jogo roda no máximo a 60 FPS, o que é uma escolha bem estranha quando se joga no PC – apesar de 60 FPS ser fluido, no PC esperamos jogar de forma ilimitada, e o port do jogo apresenta essa particularidade estranha da qual me desagradou. São falhas técnicas que não arruínam a diversão, mas lembram que a reverência nem sempre vem polida, exigindo paciência de quem joga em hardware variado.
![]()
Conclusão
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é um acerto nostálgico que resgata um mestre do stealth com toques modernos, provando que clássicos podem renascer sem perder o encanto torto e emocional que os definiu. Apesar de tropeços como a música regravada, instabilidades técnicas, limitações na IA e uma abordagem conservadora que poderia ter sido mais ousada em evoluções de gameplay e narrativa, ele brilha em fidelidade e refinamento, recomendando-se fervorosamente para veteranos em busca de um “como se fosse a primeira vez” e novatos curiosos pela lenda.
Em um ano de remakes ambiciosos, este se destaca pela humildade: não reinventa a roda, mas a faz girar com mais graça, merecendo um lugar eterno na estante de qualquer fã de narrativas interativas profundas.