Relatório de 100 páginas expõe falhas estratégicas, questiona liderança e intensifica instabilidade interna na empresa japonesa
A Square Enix entrou numa turbulência séria depois que seu terceiro maior acionista, a 3D Investment Partners (dona de 14,36% da empresa) publicou um relatório massivo atacando a direção atual. O documento, criado após respostas consideradas insatisfatórias do CEO Takashi Kiryu, demonstra um nível de frustração raramente visto de forma tão explícita no setor. Para a 3D, a companhia perdeu força competitiva, erra consistentemente em decisões estratégicas e precisa de uma revisão completa em seus planos de médio prazo.
Apesar do prestígio global de franquias como Final Fantasy e Dragon Quest, o investidor afirma que a Square Enix vive um declínio contínuo no poder de geração de lucros. Entre os problemas apontados estão:
- margens de lucro paradas há anos
- queda nas vendas de jogos
- dependência excessiva do mercado japonês
- gastos elevados com desenvolvimento
- retorno fraco em publicidade
- desempenho tímido do catálogo de títulos antigos
A comparação com rivais como Capcom e Konami só reforça o contraste. Enquanto seus concorrentes ampliaram presença global e modernizaram processos, a Square Enix estaria presa a decisões pouco eficientes e resultados irregulares.
Exclusividades caras e estratégia pouco clara
O relatório destaca que a insistência em lançamentos exclusivos vem afetando o alcance dos jogos. O cenário, no entanto, começou a mudar: Final Fantasy XVI finalmente chegou ao Xbox, e a trilogia FFVII Remake também será multiplataforma, incluindo o Switch 2. Mesmo assim, para a 3D Investment Partners, essas correções são tardias e não resolvem o problema central: a falta de uma estratégia coerente. A crítica mais dura recai sobre a chamada estratégia “Reboots”, considerada pelo investidor como um artifício para justificar resultados fracos sem apresentar um plano concreto de evolução.
O documento deixa claro que a 3D não confia na liderança de Takashi Kiryu. A crítica vai desde decisões corporativas até a maneira como a empresa tenta unificar seus braços de games, filmes, anime, mangás e arcades, algo que, segundo o relatório, simplesmente não funciona. A acusação de “falta de sinergia” expõe a visão de que a empresa está mal coordenada e sem direção clara. Na prática, o investidor está encaminhando um movimento típico de acionista ativista: forçar uma mudança na chefia.
Desempenho recente agrava a situação
A Square Enix já reconheceu que Final Fantasy XVI e Final Fantasy VII Rebirth venderam abaixo do esperado no lançamento. O relatório financeiro de maio também registrou queda no desempenho de jogos single-player, embora Dragon Quest 3 HD-2D Remake tenha ajudado a sustentar o lucro geral. Com projetos caros, altos riscos e retornos irregulares, a companhia está presa em um ciclo que mina a confiança dos investidores. A situação ficou ainda mais sensível após a empresa anunciar que pretende usar IA generativa para assumir 70% das funções de controle de qualidade até 2027. A decisão veio acompanhada de cortes significativos de funcionários, parte de uma “reestruturação fundamental” que impactou equipes no exterior, incluindo o risco de 137 demissões apenas no Reino Unido.
O anúncio foi mal recebido por desenvolvedores, jogadores e analistas, que enxergam nele uma tentativa agressiva de reduzir custos sem resolver os problemas estruturais apontados pelos acionistas. O relatório da 3D Investment Partners não é apenas um puxão de orelha, é uma advertência pública de que a paciência acabou. A pressão por mudanças na estratégia e na liderança deve se intensificar, criando um clima de incerteza para funcionários, parceiros e fãs. Se a Square Enix não apresentar uma direção consistente e resultados mais sólidos nos próximos meses, a crise pode escalar para um dos maiores confrontos entre gestão e acionistas já vistos na indústria japonesa de games.
