Introdução
A Pulsatrix Studios chamou a atenção da comunidade em 2022 com Fobia – St. Dinfna Hotel. Desde então, a expectativa por um novo projeto do estúdio cresceu bastante. Agora, com A.I.L.A, a desenvolvedora brasileira tenta dar um salto ainda maior, apostando em uma mistura ousada de terror psicológico, realidades simuladas e uma inteligência artificial que aprende com o jogador.
Mesmo que não seja perfeito, A.I.L.A reforça o potencial da cena nacional e entrega uma experiência envolvente, tensa e cheia de ideias interessantes — ainda que esbarre em limitações técnicas e um combate travado.

História: terror, identidade e perda da realidade
Você assume o papel de Samuel, um tester de jogos de 2035 que recebe em casa um novo sistema de realidade virtual experimental. Esse sistema apresenta A.I.L.A, uma inteligência artificial capaz de criar simulações personalizadas de terror conforme o comportamento do jogador.
Cada simulação funciona como uma “mini campanha”, com começo, meio e fim, ambientada em cenários variados: floresta, navio abandonado, vilarejo medieval, laboratório e outros mais. A narrativa se desenvolve com pistas sutis, pequenas revelações e conexões que só fazem sentido mais tarde, criando uma sensação constante de mistério e desconfiança.
O ponto alto está na forma como A.I.L.A manipula a percepção do jogador e como a própria IA passa a agir de maneira suspeita. A fronteira entre simulação e realidade começa a ruir, e Samuel — assim como o jogador — perde a segurança sobre o que é real.
É uma história bem construída, com reviravoltas, bons diálogos, documentos interessantes e um desenvolvimento que respeita a tensão psicológica. O jogo trabalha com temas modernos, especialmente o papel da inteligência artificial como criadora, observadora e julgadora.

Atmosfera: o maior acerto do jogo
A.I.L.A aposta na ambientação para criar desconforto. Portas rangendo, corredores escuros, ruídos ao longe, sons abafados e momentos longos de silêncio deliberado constroem uma tensão constante.
O terror raramente se apoia em jump scares gratuitos; aqui o medo nasce da incerteza, da sugestão e do suspense. Em alguns momentos, especialmente com manequins e figuras estáticas, o jogo realmente acerta a mão e entrega sequências memoráveis.

Visual e desempenho
O uso da Unreal Engine 5 rende bons resultados na iluminação e no design de cenários. Há ambientes muito criativos e bem pensados, principalmente nos mapas temáticos de cada simulação.
Por outro lado, é impossível ignorar algumas limitações: texturas simples, modelos que destoam do restante, animações rígidas e quedas de desempenho em momentos mais carregados. Não chega a comprometer a experiência, mas evidencia que o projeto poderia se beneficiar de mais tempo de lapidação técnica.

Gameplay: exploração, puzzles e combate
A exploração segue a linha clássica dos survival horrors: voltar em portas trancadas, encontrar chaves, analisar documentos, ativar mecanismos e gerenciar itens básicos. Funciona bem e mantém a sensação de progressão constante.
Os puzzles são variados e inteligentes — alguns exigem matemática, outros lógica espacial, outros interpretação de documentos. É um dos pontos mais fortes do jogo.
Já o combate é o único elemento realmente problemático. O melee é travado, lento e pouco impactante. O feedback das armas brancas é limitado e os confrontos corpo a corpo carecem de fluidez. As hitboxes de alguns inimigos também apresentam inconsistências, e certas animações deixam o jogador vulnerável por tempo demais.
Com armas de fogo o jogo se sai melhor, mas o ritmo do combate poderia ser mais refinado. O potencial está lá, mas precisa ser polido.

Terror e momentos marcantes
A.I.L.A é forte quando combina narrativa, ambiente e tensão. A imprevisibilidade da IA gera ótimos momentos de desconforto, e a construção emocional do terror funciona muito bem.
O jogo entende o timing do medo e sabe modular a experiência para manter o jogador sempre alerta. Há sequências particularmente intensas que justificam totalmente a proposta do título.
Pontos a melhorar
- Combate travado e melee pouco responsivo;
- Hitboxes inconsistentes;
- Texturas irregulares e animações simples;
- Otimização necessária em algumas áreas;
- Falta de opção para pular cutscenes;
- Sistema de saves poderia ser mais flexível.
Considerações finais
A.I.L.A é um jogo ambicioso e criativo, que tenta ir além do simples terror de sustos e construir algo mais psicológico, moderno e reflexivo. Mesmo com limitações técnicas e um combate que precisa de melhorias, o jogo se destaca pela narrativa, atmosfera e identidade própria.
É um título que representa bem o avanço da indústria nacional e merece ser jogado por quem curte terror com boa história. A Pulsatrix mostra novamente que está no caminho certo — agora, com ainda mais maturidade.
Agradecemos imensamente a Pulsatrix por ter concedido o código de jogo gratuitamente para análise.
