A Bloober Team já havia mostrado talento em The Medium e no remake de Silent Hill 2, mas nada me preparou para o que encontrei em Cronos: The New Dawn. A sensação é que o estúdio pegou tudo o que já havia feito de bom, evoluiu o que antes era ponto fraco e entregou aqui sua obra mais completa. Desde os trailers já era possível sentir a ambição, mas jogando ficou claro: este é um novo patamar para o estúdio e um dos melhores jogos de survival horror dos últimos anos.
A imersão começa no controle
De cara, Cronos me surpreendeu pelo refinamento da jogabilidade. Quem jogou Silent Hill 2 Remake sabe que a ambientação era espetacular, mas a movimentação dura do James e o combate travado comprometiam parte da experiência. Aqui não. A Bloober claramente aprendeu e trouxe um sistema muito mais fluido: armas de fogo com impacto real, combate corpo a corpo mais responsivo e um sistema de progressão que me manteve engajado o tempo inteiro.
A protagonista, A Viajante, é quem conduz essa jornada. E a progressão dela é excelente: no início, inimigos básicos já oferecem perigo, mas conforme você explora, encontra armas melhores, aprimora atributos e domina os sistemas, a sensação de crescimento é palpável. É aquele tipo de jogo que recompensa cada minuto de exploração — seja com recursos valiosos (já que munição é escassa), bilhetes que aprofundam a narrativa ou segredos que mudam sua forma de jogar.
E aqui entra um detalhe importante: a exploração não é opcional, é o coração de Cronos. Quem gosta de vasculhar cada canto será recompensado, enquanto quem tentar só seguir o caminho principal pode sentir mais dificuldade. Em 16 horas de campanha, nunca me senti repetindo padrões: cada área tem algo novo a oferecer.
A atmosfera opressiva e o peso da sobrevivência
Cronos bebe de várias fontes, mas cria uma identidade própria. Há a tensão de Dead Space e The Callisto Protocol, o backtracking e gerenciamento de inventário de Resident Evil, e até a profundidade narrativa de The Last of Us com seus documentos e cartas que expandem a história. Mas não soa como cópia: soa como evolução.
Os inimigos, chamados Órfãos, são uma das melhores sacadas. Além de diferentes variações, existe uma mecânica que muda totalmente o combate: quando um deles morre, os outros podem absorver sua essência e ficar mais fortes. Isso cria um dilema constante: finalizar rápido ou arriscar enfrentar um monstro turbinado? A solução é queimar os corpos com recursos específicos — como lança-chamas ou minas incendiárias. Essa camada estratégica deixou cada confronto tenso e imprevisível.
As boss fights também seguem essa lógica. Algumas têm pontos fracos expostos, à la Resident Evil, mas o diferencial é que o cenário sempre entra no jogo, seja com explosivos posicionados ou puzzles que abrem vantagens estratégicas.
Narrativa em camadas
Sem entrar em spoilers, a narrativa de Cronos é instigante. Você começa sem saber absolutamente nada sobre a protagonista ou o mundo, e aprende junto com ela sobre os Órfãos, a cidade de Nova Alvorada e os mistérios que cercam o looping temporal. O jogo te leva de 1981 na Polônia a saltos para o futuro, sempre em busca de “essências” de pessoas-chave.
O enredo não entrega tudo de bandeja. Mesmo após a conclusão, sobram pontas soltas que claramente deixam espaço para DLCs ou uma sequência. Longe de ser um problema, esse ar de mistério me prendeu até o fim e me deixou pensando depois de desligar o console. O ponto mais fraco aqui são os personagens secundários humanos: sem expressões faciais muito convincentes, acabam lembrando “bonecões”. Não chegam a estragar a experiência, mas destoam do esmero do resto.
Direção de arte e som que elevam a experiência
Se tem algo que me fez parar várias vezes só para contemplar, foi a direção de arte. O jogo é lindo — texturas, cenários, efeitos de gravidade distorcida ligados ao looping temporal, tudo é rico em detalhes. Cada local que visitei parecia único: do hospital à metalúrgica, da manhã à madrugada, cada ambiente tinha sua identidade. É um jogo que definitivamente mostra o que a atual geração pode entregar.
O áudio complementa perfeitamente. A trilha mistura tons sombrios com momentos quase contemplativos, lembrando produções de ficção científica da Netflix. Houve momentos em que eu simplesmente parava para ouvir a música. Além disso, cada efeito (de tiros a portas rangendo) foi feito com precisão. Não há dublagem em português, apenas legendas, mas a dublagem original em inglês segura bem. Um detalhe que adorei: assim como em Resident Evil, há salas seguras de save com uma música calma, que funcionava como respiro no meio da tensão. Pequeno toque, grande impacto.
Performance e polimento
Joguei no PS5. Após o patch da primeira semana, o desempenho se estabilizou a 60 fps no modo desempenho, e a experiência ficou impecável. Sem crashes, sem bugs relevantes. É um jogo tecnicamente sólido, algo que nem sempre era ponto forte da Bloober.
Se há uma ausência que senti, foi a esquiva. Em um jogo onde a movimentação é crucial, seria interessante ter essa opção. O combate corpo a corpo também poderia ser mais impactante — apesar de existir um recurso que dobra o dano em determinado momento, ele é opcional e aparece tarde demais para realmente mudar a dinâmica.
Veredito
Cronos: The New Dawn é, sem dúvida, o auge da Bloober Team até agora. Um estúdio que já foi visto como “promissor” agora se consolida como referência em survival horror. O jogo consegue unir tensão constante, narrativa intrigante, combate estratégico e uma direção de arte memorável em uma experiência que me prendeu por 16 horas sem sentir repetição.
Com direito a New Game+, que traz habilidades extras e até um final verdadeiro para os mais dedicados, Cronos ainda entrega conteúdo para além da campanha principal. É aquele tipo de jogo que me deixou ansioso não só para rejogar, mas para ver o que vem a seguir nessa nova franquia. Mesmo com pequenos deslizes, como personagens secundários pouco expressivos ou a ausência de uma esquiva, a experiência como um todo foi inesquecível.
Agradecemos à Theogames e Bloober Team pela gentileza de fornecer a chave para review.