Lost Soul Aside: a conturbada jornada do RPG de ação chinês sob a sombra da Sony

Lost Soul Aside: a conturbada jornada do RPG de ação chinês sob a sombra da Sony

Projeto do China Hero Project passou por anos de atrasos, mudanças drásticas de roteiro e polêmicas internas que abalaram sua reputação antes mesmo do lançamento.


Lost Soul Aside nasceu como um projeto independente do desenvolvedor Yang Bing, em 2014, chamando atenção pelo visual inspirado em grandes RPGs japoneses e pelo combate no estilo hack and slash. O título foi posteriormente incluído no China Hero Project, iniciativa da Sony para apoiar estúdios chineses e aproximar o mercado local do público global.

No entanto, o que começou como um sonho promissor rapidamente se transformou em uma história marcada por desafios de produção, expectativas irreais e polêmicas envolvendo a própria Sony.

Do sonho indie ao “inferno de desenvolvimento”

Apesar do apoio financeiro e técnico da Sony, Lost Soul Aside jamais alcançou a escala de um AAA. A realidade era mais próxima de um AA ambicioso, mas sem a mesma infraestrutura ou experiência de estúdios de peso. Essa discrepância entre o que o jogo realmente era e o que o público esperava se tornou um dos grandes problemas do projeto.

Em 2024, a Sony interveio diretamente no desenvolvimento, exigindo mudanças de roteiro e escalando profissionais que haviam trabalhado em God of War: Ragnarok e Horizon para revisar a narrativa. O enredo, originalmente planejado para dez capítulos, foi reduzido a um formato mais compacto, mas com segmentos mais longos.



Polêmicas internas e gestão turbulenta

Durante esse período, a planejadora Vivian assumiu a liderança da Ultizero Games, acumulando funções de design e gestão. Defensora ferrenha da Sony, sua postura era vista como arrogante e acabou gerando atritos constantes. Além disso, Vivian se envolveu em controvérsias públicas, chegando a vazar informações internas e até divulgar datas falsas de lançamento.

A crise atingiu o ápice no episódio do polêmico comentário “One Black cancels out Ten Yellows”, que repercutiu negativamente na comunidade. A situação levou o criador Yang Bing a demitir Vivian, mas a resposta tardia da Sony em lidar com a crise só agravou a percepção pública.

Internamente, a Sony China reconheceu falhas no gerenciamento de vendas e comunicação, admitindo que a equipe não estava preparada para lidar com a repercussão. Por meses, o estúdio foi impedido de se pronunciar, com a Sony centralizando as relações públicas e abafando declarações.



Dificuldades técnicas e atrasos no lançamento

Entre o fim de 2024 e 2025, o roteiro revisado foi concluído, junto das cutscenes e dublagens em três idiomas: japonês, inglês e chinês. O foco principal passou a ser a versão de PlayStation 5, enquanto a edição de PC enfrentava problemas de otimização com a Unreal Engine.

Até mesmo a demo oficial encontrou obstáculos, ficando retida por quase dois meses no processo de aprovação da Sony antes de finalmente ser liberada pouco antes do lançamento.

Expectativas infladas e legado do projeto

Durante quase uma década, a Sony jamais deixou claro que Lost Soul Aside não era um jogo AAA. Essa falta de transparência contribuiu para que o público criasse expectativas irreais, ampliando a decepção quando os primeiros detalhes concretos sobre sua escala vieram à tona.

Apesar das dificuldades, é inegável que o jogo simboliza tanto as ambições quanto os tropeços do China Hero Project. Para a Ultizero Games e Yang Bing, a jornada foi marcada por aprendizado, mas também por uma pressão desproporcional a um estúdio inexperiente.

Lost Soul Aside permanece como um exemplo de como gestão falha, comunicação mal conduzida e promessas mal alinhadas podem transformar um projeto promissor em um caso de estudo sobre os riscos da indústria de jogos.