Em tempos recentes, algo impensável se tornou rotina no mundo dos jogos: ameaças reais e ofensas pessoais contra desenvolvedores. Um exemplo alarmante envolveu a Capcom, após a divulgação de Monster Hunter Wilds, quando mensagens violentas obrigaram a empresa a cancelar uma palestra planejada no Japão.
Esse tipo de hostilidade, infelizmente, não é um caso isolado. A discussão veio à tona em uma reportagem publicada pelo conceituado jornal japonês Sankei Shimbun, e repercutida pelo site Automaton, abordando o que descrevem como uma “degradação moral” entre parte dos jogadores. Termos como “Morra”, “Ajoelhe-se” e “Escória incompetente” foram destacados como exemplos reais de mensagens enviadas a desenvolvedores.
Críticas legítimas ou ódio descontrolado?
Segundo o analista Hideki Yasuda, ouvido pelo Sankei, críticas duras sempre existiram, especialmente quando grandes expectativas não são atendidas. O problema atual, no entanto, é que a raiva não se limita mais ao produto: as ofensas se voltam diretamente contra pessoas reais, muitas vezes expostas em campanhas promocionais, redes sociais ou eventos ao vivo.
Esse cenário revela um descompasso entre a visibilidade crescente dos criadores de jogos e a maturidade de parte da comunidade online, incapaz de diferenciar frustração de comportamento abusivo. Como ressalta o artigo, a ética nas interações digitais ainda não evoluiu no mesmo ritmo da indústria.
Ações contra o assédio ganham força no Japão
Diante do aumento nos ataques e ameaças, várias empresas japonesas decidiram tomar providências. Nomes como Level-5, Sega e Square Enix anunciaram medidas firmes contra o assédio, que vão desde o bloqueio de usuários abusivos até processos judiciais. A Sega, por exemplo, confirmou que entrará com uma ação legal contra um indivíduo que fez declarações repetidamente difamatórias contra um de seus funcionários.
O histórico de ameaças no Japão já causou tragédias reais. Um dos casos mais marcantes foi o atentado contra o estúdio Kyoto Animation em 2019, que resultou na morte de 36 pessoas. O estúdio havia recebido ameaças anônimas por anos, e esse episódio dramático acendeu um alerta vermelho que parece ter voltado à pauta com força.
A Capcom ainda não comentou publicamente sobre novas medidas em relação ao caso de Monster Hunter Wilds, mas a situação reflete um problema mais amplo e urgente: como cultivar uma comunidade que saiba criticar sem destruir?
Fonte: Automaton