Vendas abaixo do esperado, silêncio da Microsoft e promessa inédita de mudança expõem desgaste da franquia, apesar do discurso otimista do Xbox
A situação de Call of Duty: Black Ops 7 está longe de ser confortável. Lançado apenas um ano após Black Ops 6, o novo capítulo da franquia chegou a um mercado muito mais competitivo e claramente menos tolerante a repetições. Enfrentando pesos-pesados como Battlefield 6 e Arc Raiders, o jogo teve uma estreia consideravelmente mais fraca do que o padrão histórico da série, levantando alertas tanto na indústria quanto entre os investidores. Para piorar a percepção, a Microsoft optou pelo silêncio. Até agora, não foram divulgados números oficiais de vendas, base de jogadores ou impacto direto no Game Pass. Em uma franquia que sempre foi usada como vitrine de sucesso comercial, essa ausência de dados diz muito. Quando números são bons, eles aparecem. Quando não são, o discurso muda.
No início de novembro, dados de mercado já apontavam um cenário preocupante na Europa. Black Ops 7 vendeu 63% menos que Battlefield 6 no mesmo período de lançamento e teve uma queda superior a 50% em relação a Black Ops 6 no ano anterior. Não se trata de uma oscilação normal, mas de um tombo significativo para uma franquia que sempre liderou o gênero. Chris Dring, do The Game Business, não suavizou a análise e classificou o lançamento como “terrível”. A repercussão negativa foi tão forte que a própria Activision tomou uma atitude rara e reveladora: publicou um comunicado oficial prometendo que não lançará mais jogos de Modern Warfare e Black Ops em anos consecutivos.
Activision admite desgaste e promete mudança
No comunicado, assinado pelo time de Call of Duty, o estúdio reconhece de forma indireta que a franquia não atendeu totalmente às expectativas de parte do público. A mensagem fala em reconquistar a confiança dos jogadores e reforça um compromisso com experiências anuais realmente distintas, evitando a sensação de “mais do mesmo” que passou a acompanhar a série. Essa promessa, embora necessária, levanta uma questão incômoda: se a própria Activision precisou afirmar isso publicamente, é porque o problema já estava evidente internamente há algum tempo e foi ignorado até o impacto virar números negativos. Tentando equilibrar o discurso, Matt Booty, chefe do Xbox Game Studios, adotou um tom bem mais otimista em entrevista à Variety. Segundo ele, Black Ops 7 está entre os jogos mais jogados no Xbox atualmente e o trabalho dos estúdios envolvidos merece reconhecimento. Booty destacou que lançar um jogo dessa escala todos os anos “é uma tarefa realmente difícil” e defendeu o modelo sazonal da franquia, que estende o ciclo de vida dos lançamentos ao longo do ano.
“Agora, é um dos jogos mais jogados no Xbox. Estou realmente orgulhoso do que a equipe fez em termos de inovação e avanço da franquia. Lançar uma grande franquia como um relógio, ano após ano, é uma tarefa muito difícil.”
O executivo também ressaltou que Call of Duty funciona quase como uma categoria própria dentro do mercado, justamente pela capacidade de entregar conteúdo contínuo por meio de temporadas, e não apenas no lançamento inicial. A Microsoft revelou ainda que Call of Duty foi a franquia número 1 do Game Pass em 2025, tanto em número de jogadores quanto em horas jogadas. Esse dado é relevante, mas não resolve o problema central. Estar no topo do Game Pass não é o mesmo que performar bem no varejo tradicional ou manter o mesmo impacto cultural e comercial de anos anteriores. Na prática, o Game Pass funciona como uma rede de proteção. Ele mascara quedas de vendas diretas, mas não elimina o desgaste criativo nem a percepção de saturação. Com o próximo título previsto para 2026, possivelmente retornando à linha Modern Warfare, a grande incógnita está em 2027. Um Black Ops 8 imediato parece improvável diante das promessas recentes. Algo novo, ou ao menos um intervalo maior, começa a parecer não apenas desejável, mas necessário.
