Após se despedir da Sony Interactive Entertainment no início de 2025, encerrando uma trajetória de mais de três décadas na gigante japonesa, Shuhei Yoshida tem se posicionado com franqueza sobre os rumos da indústria de games. Em entrevistas recentes, o veterano não apenas defendeu a preservação de clássicos e o reajuste no preço dos jogos, como também compartilhou preocupações sérias sobre o modelo atual de produção, especialmente no que diz respeito às superproduções AAA.
A era dos blockbusters… e seus riscos
Yoshida afirmou que a busca desenfreada por jogos cada vez mais grandiosos está se tornando insustentável. Segundo ele, o mercado — liderado por empresas como a própria Sony — foi se moldando ao apetite dos jogadores por experiências mais cinematográficas, mundos gigantescos e realismo visual impressionante. Isso levou os estúdios a apostarem em orçamentos colossais para atender a essas expectativas, principalmente durante a geração do PS4 e Xbox One.
“Naquele momento, parecia mais seguro pensar grande. Se colocássemos dinheiro suficiente em um jogo imenso, as chances de retorno pareciam maiores. Afinal, era isso que o público queria:
produções maiores, mais belas e mais longas.”
-disse Yoshida
Mas o ex-diretor dos estúdios first-party da PlayStation reconhece que essa lógica está cobrando um preço alto. O ciclo atual exige investimentos na casa dos US$ 200 milhões ou mais para um único título — um patamar que, segundo ele, já ultrapassou a linha do razoável.
Menos jogos, menos riscos, menos criatividade
Com custos tão altos, as editoras se veem cada vez mais pressionadas a minimizar riscos. Isso, segundo Yoshida, gera um efeito colateral preocupante: menos jogos sendo produzidos e menos espaço para inovação.
Ele lembra que, na era do PlayStation original, vender um milhão de cópias já era sinônimo de sucesso estrondoso. Hoje, títulos AAA só são considerados viáveis se ultrapassarem a marca de dez milhões de unidades vendidas.
“Vi uma análise recente mostrando que, em duas gerações consecutivas, uma mesma franquia duplicou seu orçamento de produção. Isso chegou a um ponto em que o investimento simplesmente não se paga mais. A geração do PS5 talvez seja a primeira em que a indústria começa a perceber, de fato, que esse modelo não é sustentável.”
-destacou Yoshida
Um alerta necessário
Com sua experiência e autoridade, Yoshida lança um alerta importante: ou a indústria encontra novas formas de equilibrar ambição com viabilidade, ou continuará marchando rumo a um beco criativo e financeiro. Em tempos de demissões em massa, fusões agressivas e foco excessivo em jogos como serviço, suas palavras ecoam como um chamado à reflexão — e, talvez, à reinvenção.
Confira a entrevista de Yoshida: