CD Projekt relembra desafios, ceticismo e decisões internas que moldaram The Witcher 3: Wild Hunt

CD Projekt relembra desafios, ceticismo e decisões internas que moldaram The Witcher 3: Wild Hunt

Executivos detalham dificuldades para convencer parceiros, decisões narrativas tomadas tardiamente e o temor de competir diretamente com Batman: Arkham Knight durante o lançamento do RPG que se tornaria um dos maiores sucessos da história.


A CD Projekt revelou que enfrentou forte ceticismo durante o desenvolvimento de The Witcher 3: Wild Hunt, mesmo após o sucesso dos dois primeiros jogos. Segundo Adam Badowski, co-CEO do estúdio, muitos parceiros e investidores duvidaram de que seria possível combinar uma narrativa cinematográfica robusta com um mundo aberto amplo e dinâmico.

“Era óbvio para nós que esse caminho era possível, mas naquela época era algo gigantesco. Não só para nós, mas para a indústria”, explicou Badowski. “Muita gente simplesmente não acreditava que dava para unir esses elementos.”

Embora o estúdio já tivesse construído reputação por narrativas fortes, The Witcher 3 mirava algo muito mais ambicioso, caro e arriscado. Alguns executivos buscavam mecânicas inovadoras e comparavam o projeto a outros jogos populares, enquanto a CD Projekt insistia em priorizar a experiência narrativa. Badowski reconhece que a jogabilidade de Geralt era “padrão” para RPGs de ação. Combate, progressão de habilidades e magia contida por coerência narrativa não eram considerados suficientemente revolucionários por potenciais parceiros. Convencer investidores apenas com roteiros e conceitos se mostrou ainda mais difícil. Para superar a desconfiança, o estúdio apostou em demonstrações jogáveis, prática pouco comum naquela fase de produção.

“É melhor inspirar as pessoas do que explicar tudo. A inspiração cria entusiasmo pessoal”, defendeu Badowski.

O sucesso inesperado e a reação dentro do estúdio

O lançamento de The Witcher 3 foi um divisor de águas. Críticas extremamente positivas surpreenderam até funcionários que não acreditavam no projeto.

“O momento mais significativo foi o lançamento. Pessoas que não confiavam no conceito ficaram impressionadas com as avaliações. Era high five o tempo todo, comemorando cada nota 10 e cada 9”, relembrou Badowski.

O RPG rapidamente se consolidou entre os mais influentes da década, ultrapassando 50 milhões de cópias vendidas e estabelecendo novos padrões para narrativas densas em mundos abertos. Outra revelação recente explica uma das características mais marcantes do jogo: a escolha romântica entre Triss Merigold e Yennefer. Segundo Badowski, essa decisão só foi tomada muito tardiamente.

“Não estava lá desde o começo”, afirmou. A equipe percebeu que faltava um conflito pessoal para Geralt. “Tínhamos a Ciri, mas faltava alguma coisa.”

A adição do triângulo amoroso levou à criação de cenas inéditas, mas também reforçou o protagonismo de Yennefer na narrativa, já que o roteiro original sempre foi pensado com base no material dos livros. Marcin Blacha, escritor principal do jogo, explica:

“A coisa mais importante nos livros é a relação entre Geralt, Ciri e Yennefer.”

Triss, que ganhou destaque nos dois primeiros jogos, acabou tendo seu papel ajustado apenas no fim da produção.

O remake de The Witcher 1 e o abandono dos “cards românticos”

O remake do primeiro The Witcher, atualmente em produção, deve reimaginar completamente o tratamento das cenas românticas. Badowski definiu o sistema de cards colecionáveis do jogo original como “infantil” e afirmou que o estúdio pretende adotar um tom mais maduro. O projeto, porém, está temporariamente parado devido à transição para a Unreal Engine 5, mesma tecnologia que será usada em The Witcher 4. Michał Nowakowski, diretor-executivo da CD Projekt, revelou outro ponto de tensão na época: o temor de competir diretamente com Batman: Arkham Knight. Segundo o executivo, varejistas americanos e europeus ofereciam janelas promocionais limitadas, e o lançamento simultâneo com um dos jogos mais esperados da geração parecia ameaçar a visibilidade de The Witcher 3.

“Havia uma grande questão sobre marketing, se conseguiríamos estar no mesmo nível dos maiores lançamentos”, explicou Nowakowski.

A situação era ainda mais sensível porque a Warner Bros., responsável pela distribuição de The Witcher 3 no Ocidente, também era a editora de Arkham Knight. O estúdio entrou em pânico quando percebeu que ambos os jogos chegariam praticamente juntos:

“Oh Deus, eles estão no topo… vão nos atropelar. Será muito difícil.”

O cenário só mudou quando Arkham Knight foi adiado para 23 de junho, cinco semanas após The Witcher 3, que chegou em 18 de maio. Isso deu ao RPG espaço suficiente para respirar e conquistar o mercado. Mesmo após anos, as histórias dos bastidores de The Witcher 3 continuam revelando o nível de risco, ambição e coragem envolvidos na produção. O jogo superou expectativas internas, venceu ceticismo externo e solidificou a CD Projekt como uma das principais criadoras de RPGs modernos.

Com novos projetos baseados na franquia, o remake do primeiro jogo e a aguardada nova saga de Geralt em produção, The Witcher permanece como uma das propriedades mais prestigiadas da indústria, resultado de uma combinação improvável que muitos acreditavam ser impossível: narrativa cinematográfica de alto nível integrada a um mundo aberto expansivo e memorável.