Introdução: A difícil jornada de Silent Hill f
A mais recente entrada da franquia Silent Hill, Silent Hill f, leva-nos a uma ambientação e narrativa fortemente influenciadas por mitos japoneses e tensões sociais — marcando uma guinada em relação ao cenário clássico norte-americano da série. (Inverse)
Desenvolvido pela Neobards Entertainment e publicado pela Konami, o jogo se passa em 1960 numa pequena vila chamada Ebisugaoka e acompanha a estudante de ensino médio Hinako Shimizu, que enfrenta não apenas horrores sobrenaturais, mas também pressões familiares, sociais e pessoais. (Inverse)
Mas, talvez o mais importante: Silent Hill f exige múltiplas jogadas para se compreender plenamente a história. Endings que revelam camadas diferentes da trama só ficam visíveis em New Game+ e ainda após múltiplos “terminados completos”. (Game8)
Este artigo para o LevelUpNews se propõe a explicar toda a história — ou ao menos dar uma visão bem detalhada — e depois destrinchar cada um dos finais do jogo, o que eles significam para a narrativa, e como isso tudo se conecta com os temas principais.
⚠️ Aviso de spoilers: A partir de agora, vamos destrinchar grande parte da trama e revelar todos os finais — leitura sob risco de perder surpresas.

Parte 1. Panorama da trama
Para entender os finais, é fundamental compreendermos os elementos-chave da história: quem é Hinako, quais forças a cercam, quais simbolismos o jogo emprega e como se estrutura o embate interno da protagonista.
Quem é Hinako e a cidade de Ebisugaoka
Hinako Shimizu é uma jovem que vive em Ebisugaoka, uma vila remota japonesa nos anos 60. Seu pai é abusivo, a mãe submissa, e ela carrega uma sensação de aprisionamento social e emocional — típica de famílias tradicionais japonesas e de aspectos culturais como o omiai (casamento arranjado) que o jogo evoca. (PCGamesN)
Logo no início, ela está em conflito: sua “vida normal” já é tortuosa, e logo mergulha no absurdo, no sobrenatural, no onírico — típico de Silent Hill —, conforme a névoa desce e o mundo que ela conhecia se distorce. (Inverse)
- as pílulas vermelhas que Hinako ou alguém próximo toma repetidamente — indicativo de anestesia, fuga ou controle;
- a figura mascarada da raposa (Fox Mask) que aparece como guia ou manipulador no “mundo onírico”;
- rituais de casamento, identidade feminina, submissão, perda de “eu”, que se mesclam à ambientação de terror;
- “Outro mundo” / “mundo onírico” vs “mundo real” — as linhas entre realidade, sonho, trauma e ritual se misturam.
Simbolismos-chave e estrutura narrativa
Para facilitar a compreensão, podemos dividir a narrativa em duas camadas principais:
- Mundo real: Hinako vive em Ebisugaoka, enfrenta a família, o relacionamento abusivo com o pai, a pressão para casar/se encaixar, a sensação de identidade perdida.
- Mundo onírico / ritualístico: Espelho simbólico dos conflitos internos de Hinako — o casamento arranjado, a máscara de raposa, o ritual do punhal kaiken, a purificação, etc. Todo esse “outro mundo” funciona como metáfora de seu estado psicológico e das tradições que a prendem.
Por exemplo: ela recebe um punhal chamado Kaiken, que historicamente no Japão poderia estar escondido no quimono da noiva, simbolizando proteção, maturidade e determinação. No jogo, isso serve como metáfora clara: Hinako ou está sendo preparada para casar ou está num ritual de imposição. Outro exemplo: o ritual da purificação, dos votos, dos ramos de árvores perenes, da troca de alianças (ou seus símbolos).
Toda essa mitologia cultural japonesa é usada — de fato, o jogo traz muito disso — para reafirmar o tema central: identidade, liberdade, imposição e rebeldia. (Inverse)
Um detalhe: as bonecas que Hinako encontra ao longo da jornada funcionam como lembranças de sua “verdadeira” versão, de quem ela era antes ou poderia ter sido. Este é o fio condutor para entender por que os finais variam — porque o que muda é quão consciente ela se torna desse conflito interno.
Preparando para os finais

Vários elementos da jogabilidade e da progressão narrativa apontam para os finais: as pílulas vermelhas (símbolo de anestesia/escapismo), a máscara da raposa (símbolo de casamento arranjado ou ritual), o mundo alternativo em que Hinako caminha para um altar, as cenas de “ritual matrimonial forçado”, a perda do braço (ritual brutal no jogo) como metáfora de “dar a mão” ou “abrir mão” de si mesma.
Esses detalhes ajudam a contextualizar os finais: eles não são simplesmente “vamos fugir” ou “vamos aceitar” — eles simbolizam quais versões de Hinako sobreviverão: a que se entrega ao ritual, a que resiste, a que consegue um meio-termo, e aquela que transcende tudo.
Parte 2. Os finais — explicação, significado e como desbloquear
São cinco finais no jogo. (TheGamer) Vamos detalhar cada um:
- Final 1 (Normal) – De volta ao ninho (ou equivalente)
- Final 2 – Casamento da Raposa
- Final 3 – A Raposa molha seu rabo
- Final 4 (Final Verdadeiro) – Ebisugaoka em silêncio
- Final 5 – A Grande Invasão Espacial! (UFO / humorístico)
2.1 Final 1 – “De volta ao ninho” (Final Normal)
Como é desbloqueado
Este é o final que qualquer jogador obtém na primeira jogada do jogo — pois os demais requerem New Game+. (Game8)
O que acontece
Na cena final, Hinako surge no mundo onírico, caminha até um altar vestida de noiva. Sua irmã Junko aparece e a confronta (“como você pôde estar desse lado?”). Aqui está o simbolismo da anestesia (pílulas vermelhas), da entrega ao casamento, da perda da identidade. Hinako grita: “Eu só queria voltar para casa”. Ela destrói o altar, corre para fora e massacra monstros (que simbolizam os convidados do casamento ou as expectativas sociais). A cena corta para o rádio policial relatando duas vítimas masculinas, Hinako como suspeita, fuga com vestido de noiva, consumo de cápsulas vermelhas. (PCGamesN)
Significado
Esse final simboliza a derrota de Hinako diante das pressões: ela se entrega às pílulas, à cerimônia, ao ritual, perde o controle da realidade e afunda no caos. O “mundo onírico” e o “real” se fundem em delírio. É a versão mais pessimista da narrativa: a jovem não resiste, se perde, se quebra.
Pontos de reflexão
- A entrega ao casamento arranjado como símbolo de abdicar da própria identidade.
- A droga/pílula como instrumento de anestesiar o sofrimento, mas que também causa alienação.
- A violência final como metáfora de explosão interior (mas que em vez de libertar resulta em colapso).
- Como narrativa, sugere: “se você ceder às forças que querem te controlar, você pode perder tudo”.
2.2 Final 2 – “O Casamento da Raposa”
Como desbloquear
Requer New Game+ (segunda jogada) e seguir condições específicas: não tomar as pílulas vermelhas (“Red Capsules”), encontrar ou deixar a Espada Sagrada (Sacred Sword), entre outros. (GamesRadar+)
O que acontece
Esse final mostra Hinako caminhando até o altar. Junko aparece e fala algo como “é hora de aceitar o seu destino”. A versão casada de Hinako aparece. A boneca (símbolo da versão “verdadeira” de Hinako) aparece e a separa. Surge a dor de cabeça intensa, a outra versão acusa: “Você me tirou tudo”. A versão casada responde: “Você ainda pode visitar sua família…”. Ambas se confrontam. A cena termina com Hinako aparentemente sendo “conquistada” ou rendida ao ritual — ou no mínimo muito perto disso.
Significado
Esse final representa a resignação ou parcial aceitação do sistema: Hinako recusa parte das imposições, mas acaba quase cedendo ou sendo levada por aquele destino. Ela resiste, mas não alcança a total libertação. A dualidade versões “eu antiga” vs “eu casada” está explícita. A máscara da raposa, o casamento da raposa (chuva de raposa: fenômeno folclórico) aparecem como símbolos finais. Não é claramente “bom” — é ambíguo: há resistência, mas não uma vitória definitiva.
2.3 Final 3 – “A Raposa molha seus rabo”
Como desbloquear
Também via New Game+, com condições específicas: não usar cápsulas vermelhas, adquirir a Espada Sagrada sem purificá-la. (PowerPyx)
O que acontece
Esse final mostra Hinako tendo uma versão mais “ativa” de resistência, mas que ainda não alcança o estado ideal. Ela enfrenta a sua outra versão, ou o monstro interior, mas deixa a espada não-purificada — o que simboliza que ela ainda está presa em parte ao ritual ou ao sistema. A cena final não libera por completo a protagonista.
Significado
Este final simboliza uma vitória parcial: Hinako luta contra seu destino, mas não o rompe por completo. A “espada não purificada” serve como metáfora: ela ainda carrega cargas, ainda há vínculos não resolvidos. É um passo mais adiante que o Final 2, mais consciente, mas ainda longe do desfecho ideal.

2.4 Final 4 – “Ebisugaoka em silêncio” (Final Verdadeiro)
Como desbloquear
Este é considerado o final “verdadeiro”, ou canônico. Requer New Game+2 (ter completado ao menos dois outros finais), não usar cápsulas vermelhas, adquirir e purificar a Espada Sagrada, e oferecer o Broche ao Jizo. (Game8)
O que acontece
Hinako se volta para seus pais e irmã, pede desculpas, reconhece seu erro, mas afirma que se o que eles querem é sua felicidade, deixem-na viver. Ela destrói o altar, enfrenta sua versão casada, batalha contra a besta-raposa demoníaca que personifica tudo que ela reprimiu (raiva, desejo de liberdade, identidade). Após derrotar, ela recupera a boneca (símbolo de sua versão “verdadeira”), e o homem da máscara de raposa (Kotoyuk) lhe deixa uma carta falando de uma vida nova, simples, de redescoberta. As ruas da cidade aparecem vazias — apenas silêncio. Hinako encontra paz. (PCGamesN)
Significado
Esse final representa a libertação: Hinako rompe com o casamento arranjado, com o ritual, com a versão dela mesma que aceitava ser “apenas parte da família do marido”. Ela recupera sua identidade, recusa uma vida imposta e escolhe viver por si. É o desfecho ideal da narrativa de identidade, e por isso é conhecido como “verdadeiro”.
Também sugere que o “momento final” é menos sobre luta física que sobre reconciliação interior: a boneca, a carta, o silêncio na cidade — indicativos de que o trauma encontra pausa, que a protagonista encontra um caminho. Do ponto de vista da franquia, este final fecha o arco de Hinako de forma coerente com os temas de Silent Hill: o terror não está (apenas) nos monstros, mas no esquema que oprime, no eu que se perde, na cultura que dita destinos.
2.5 Final 5 – “A Grande Invasão Espacial!!” (Final UFO)
Como desbloquear
Este é o típico “final de piada” da série Silent Hill (os famosos finais UFO). Requer encontrar transmissões de rádio de OVNI, pôsteres, interagir com um OVNI durante o capítulo X. (GamesRadar+)
O que acontece
Em certo momento, você ativa a sequência UFO e o final risca o tom sério. Mostra uma cena absurda envolvendo alienígenas e humor, desligando momentaneamente da tragédia de Hinako para brincar com a tradição da série.
Significado
Embora não seja “canônico” no sentido narrativo sério — pois está fora do tema principal — ele funciona como alívio, homenagem e tradição para os fãs da série. Em termos de história, quase não contribui para a compreensão profunda da trama, mas marca que o jogo respeita o legado irreverente da franquia.
Parte 3. Temas centrais e considerações finais
Identidade e liberdade
O fio condutor de Silent Hill f é a busca pela própria identidade — Hinako não quer simplesmente “ser casada” ou “seguir o destino imposto”. A narrativa mostra que a liberdade não é ausência de dor, mas a capacidade de escolher.
Pressão social, gênero e papel feminino
Ambientado nos anos 60 num Japão tradicional, o jogo utiliza rituais de casamento, símbolos de submissão (o Oô-Kakushi, o Kaiken), para questionar até que ponto Hinako está sendo moldada por forças externas. Uma crítica implícita ao papel feminino, à imposição de papéis sociais. (Inverse)
Trauma, fuga e auto-destruição
As pílulas vermelhas que Hinako ou alguém toma constantemente são simbólicas de anestesiar o sofrimento, mas acabam levando ao colapso — o que vemos no Final 1. O terror do jogo mescla violência sobrenatural com violência doméstica, abuso, perda de controle.
Realidade vs ilusão / ritual vs liberdade
O “mundo onírico” não é só cenário de monstros: é palco simbólico da cerimônia de casamento que Hinako está prestes a “participar” — ou a fugir. O ritual se torna pesadelo, e o pesadelo se torna ritual. A diferença entre “aceitar” e “resistir” torna-se a linha tênue entre os finais.
Múltiplas jogadas como ferramenta narrativa
É importante destacar que o jogo não foi desenhado para que o jogador “pegue tudo” na primeira jogada. As camadas mais profundas da história só aparecem com New Game+ e rejogadas. Isso reforça que o tema central — “a dúvida, a escolha, a repetição” — está materializado na mecânica. (TheGamer)
Parte 4. Qual final devo ver primeiro? E o que significa para a franquia?
- Jogue a primeira vez sem buscar demais por “todos os segredos”. Aproveite o medo, a ambientação.
- Depois, jogue novamente para desbloquear mais finais — especialmente se quiser entender “por que” Hinako está passando por isso.
- Se quiser o “final verdadeiro”, prepare-se para investir tempo em New Game+2 e cumprir todos os requisitos.
Para a franquia: Silent Hill f marca uma transição/convergência de vários elementos: setting japonês, foco em identidade e sociedade, e ainda mantendo a atmosfera clássica de Silent Hill. Algumas vozes podem questionar “é realmente Silent Hill?” — mas as análises sugerem que o espírito está lá, apenas com nova roupagem. (The Outerhaven)
Fontes:
- ‘Silent Hill f’ Is a Heady, Grisly, and Surprisingly Timely Horror Masterpiece
- Ending Guides and Explanations | Silent Hill f – Game8
- Silent Hill f ending explained and how to get all endings – PCGamesN
- Silent Hill f: All Endings And How To Unlock Them – TheGamer
- All Silent Hill f endings, and how to get the sword and purify it
- Silent Hill f All Endings Guide – PowerPyx
- True Ending (Ebisugaoka in Silence) and How to Get It | Silent Hill f
- PSA: Reaching The Ending Of Silent Hill f Is Only The Beginning
- Is Silent Hill f a Silent Hill game?
Minha Jornada de Platina
—Assista à minha jornada de platina de Silent Hill f no YouTube.