O Retorno de Joe Musashi
Depois de mais de uma década no limbo, a franquia Shinobi retorna em Art of Vengeance, trazendo novamente Joe Musashi para o centro da ação. A premissa é simples: sua vila é atacada, seus discípulos transformados em pedra, e a corporação paramilitar ENE, liderada pelo vilanesco Lord Ruse, precisa ser detida. É uma narrativa de vingança direta, que não surpreende em nenhum momento, mas cumpre bem seu papel de pano de fundo para a ação.
Pessoalmente, senti que a história não empolga. Ela se mantém sempre no básico, sem personagens marcantes ou reviravoltas memoráveis, o que pode desapontar quem espera algo mais elaborado.

Arte de Encher os Olhos
Se a narrativa fica devendo, a direção de arte compensa. O estilo desenhado à mão da Lizardcube, já conhecido em Wonder Boy e Streets of Rage 4, dá vida a cenários vibrantes e cheios de detalhes. Cada fase é um espetáculo à parte: de florestas de bambu a cidades futuristas encharcadas pela chuva neon, passando pelo interior grotesco de um kaiju e até bases submarinas iluminadas por águas-vivas bioluminescentes.
É inegável que Art of Vengeance é um dos jogos 2D mais bonitos dos últimos anos. Ao mesmo tempo, em alguns momentos a tela fica tão carregada de inimigos e efeitos que chega a ser difícil enxergar o próprio personagem.

Jogabilidade: Clássico com Toque Moderno
A jogabilidade é, sem dúvida, o ponto alto. O combate é fluido, responsivo e cheio de possibilidades. Joe pode encadear combos com a katana, lançar kunais, executar ataques especiais Ninpo e liberar habilidades de Ninjutsu devastadoras. A progressão é bem equilibrada: começamos simples e, aos poucos, desbloqueamos ganchos, escaladas, golpes mais elaborados e amuletos que alteram as regras do jogo, incentivando a experimentação.
Gostei do sistema de combos e da variedade de movimentos, mas senti que o jogo, apesar de polido, não arrisca nada realmente novo. Ele mistura elementos de brawlers 2D com plataformas e toques de metroidvania, mas tudo de forma já vista em outros títulos recentes, como Ninja Gaiden: Ragebound ou The Messenger.

Som e Trilha Sonora
A trilha sonora brilha com composições de Tee Lopes e participações de Yuzo Koshiro, misturando batidas modernas com o estilo clássico da Sega. Cada fase tem sua identidade — destaque para a Neo City, onde o som dá ritmo à ação e reforça o clima urbano. Os efeitos de combate são claros e impactantes, mas em momentos de tela cheia o áudio pode ficar um pouco carregado. Ainda assim, a OST é marcante e ajuda a manter o jogador imerso.

Acessibilidade e Modos
Art of Vengeance oferece boas opções para diferentes perfis. Além da campanha principal de 8 a 10 horas, há Boss Rush e Arcade Mode para quem busca desafios extras e speedruns. Já no outro extremo, há ajustes de acessibilidade, como modificadores de dificuldade e assistências, que tornam o jogo mais acessível para quem quer apenas curtir a história. É um equilíbrio positivo: o jogo pode ser intenso para veteranos, mas também acolhe novatos no gênero.
Fases e Exploração
As 14 fases principais oferecem bastante variedade: trens em movimento, cidades verticais com reféns para resgatar, desertos cheios de ruínas e até uma fase que revisita o clássico nível de surfe de Shinobi III. Além disso, há áreas secretas, arenas de elite com combates intensos e desafios de plataforma ao estilo Super Meat Boy que realmente testam a habilidade do jogador.
Porém, alguns problemas de design incomodam, como inimigos que reaparecem rápido demais e a falta de clareza no mapa para indicar onde quedas são seguras ou letais. Pequenos detalhes, mas que quebram um pouco o ritmo da exploração.

Chefes e Desafios Extras
Os chefes são variados e criativos, indo de mutantes que se fundem em criaturas gigantes até mestres capazes de invocar minotauros e grifos em pleno combate. Não são extremamente desafiadores, mas rendem bons momentos e recompensas úteis. Após terminar a campanha de cerca de 8 a 10 horas, o jogo ainda libera modos extras como Boss Rush e Arcade Mode, que aumentam a longevidade para quem curte speedruns ou desafios.

Conclusão
Shinobi: Art of Vengeance é um jogo sólido, bonito e divertido de jogar. A Lizardcube mostra novamente sua competência em revitalizar clássicos da Sega, mas aqui a sensação é de que faltou ousadia. O combate é ótimo, os cenários são espetaculares, mas a narrativa rasa e a ausência de grandes inovações impedem que o título alcance o patamar de algo realmente memorável.
Para quem tem carinho pela franquia ou procura um bom 2D de ação com estilo marcante, vale a experiência. Mas se a expectativa era ver Shinobi redefinindo o gênero, fica a impressão de que a vingança poderia ter ido mais longe.
Agradecemos à Theogames e SEGA pela gentileza de fornecer a chave para review.