The Witcher 3 e o peso da vida: por que o RPG é tão sombrio?

The Witcher 3 e o peso da vida: por que o RPG é tão sombrio?

Lançado em 2015, The Witcher 3: Wild Hunt segue amplamente considerado como um dos maiores RPGs já feitos. E em 2025, o título da CD Projekt RED celebrou seu décimo aniversário com homenagens da comunidade, eventos e entrevistas especiais com os desenvolvedores. Em uma dessas conversas, Paweł Sasko — designer de missões e uma das principais vozes criativas da equipe — comentou sobre a tonalidade sombria do jogo e por que ela é tão marcante.

A cultura polonesa e o olhar pessimista

Para Sasko, uma parte essencial do que torna The Witcher 3 tão denso emocionalmente é a origem cultural dos próprios desenvolvedores.

“Eu diria que nós, como poloneses, somos muito mais negativos do que as sociedades ocidentais”, comentou. “Temos uma tendência a ver o copo meio vazio em vez de meio cheio.”

Segundo ele, essa inclinação cultural influencia diretamente o tipo de histórias que a equipe gosta de contar. Diferente de muitos jogos que apostam em tramas com finais felizes ou soluções idealizadas, The Witcher 3 apresenta um mundo em que a tragédia é inevitável — e o papel do jogador é navegar por ela da maneira mais humana possível.

Entre o desespero e a gratidão

Sasko, que é psicólogo do desenvolvimento por formação, comparou os temas do jogo a experiências inevitáveis da vida, como o envelhecimento dos pais ou a perda de um animal de estimação.

“Esse momento de transição — de compreender que seus pais estão envelhecendo, que eles vão adoecer e morrer — faz parte da nossa experiência humana”, explicou. “É desonesto mostrar e retratar o mundo sempre de forma positiva.”
Para ele, a narrativa do jogo busca refletir essa realidade: “Você não pode impedir que seus pais morram. […] Mas a questão é ser grato por tudo o que você viveu.”

Os raios de luz em meio à escuridão

Apesar da dureza emocional do enredo, o desenvolvedor afirma que The Witcher 3 — assim como Cyberpunk 2077, outro título no qual ele trabalhou — também é sobre momentos de beleza, afeto e humanidade.

“Mesmo nesse mundo distópico e horrível de Cyberpunk, ou nesse mundo sombrio e noir de The Witcher, existem pessoas boas. Existem bons momentos. Existem amizades. Existe amor!”, disse Sasko.

Um exemplo citado por ele é a cena do jantar em Kaer Morhen, que mostra Geralt e seus companheiros em um raro momento de descontração.

“Acho que essa é a ambição: incentivar as pessoas a enxergarem isso. E pode soar um pouco pesado quando falo sobre isso, mas quero ter certeza de que esse raio de luz seja visível no nosso trabalho.”
Maturidade e experiência de vida

Além da influência cultural, o tom de The Witcher 3 também reflete a fase de vida da equipe que o criou. De acordo com Sasko, a maioria dos desenvolvedores tinha entre 30 e 40 anos na época — um período em que questões como mortalidade, legado e propósito se tornam cada vez mais presentes.

“Criar entretenimento mais maduro é reconhecer que nem tudo vai dar certo. Em todas as nossas vidas, coisas horríveis vão acontecer. Mas ainda assim, há beleza nisso.”

Fonte: PC Gamer