Neil Druckmann e Cory Barlog falam sobre o futuro de suas franquias, desafios criativos e os impactos da indústria

Neil Druckmann e Cory Barlog falam sobre o futuro de suas franquias, desafios criativos e os impactos da indústria

Durante o DICE Summit em Las Vegas, dois dos mais influentes desenvolvedores da indústria de games, Neil Druckmann (The Last of Us) e Cory Barlog (God of War), participaram de uma conversa aberta sobre criatividade, dúvidas e o impacto do desenvolvimento de jogos em suas vidas. O evento ofereceu insights sobre como cada um encara a construção de franquias de sucesso e os desafios que surgem ao longo do caminho.

A filosofia de Druckmann sobre sequências: planejamento a curto prazo

Ao ser questionado sobre o desenvolvimento de personagens ao longo de múltiplos jogos, Neil Druckmann foi direto:

“Nunca penso em vários jogos ao mesmo tempo porque o título atual já me ocupa demais. Se você começa a planejar uma sequência enquanto ainda trabalha no jogo atual, está se preparando para o desastre.”

Ele explicou que essa abordagem já representava um desafio durante a produção de The Last of Us Part II. Algumas ideias para uma possível continuação surgiram ao longo do processo, mas nada foi planejado com antecedência.

“E se eu nunca puder fazer outro? Não guardo ideias para o futuro. Se algo tem potencial, quero usá-lo agora.”

Para Druckmann, uma sequência só faz sentido se houver novas questões a serem exploradas ou uma abordagem criativa inédita. Caso contrário, ele prefere encerrar a história.

A mesma mentalidade foi aplicada à série Uncharted. Ele explicou que, ao desenvolver o primeiro jogo, não havia qualquer plano para a icônica sequência do trem em Uncharted 2 ou o futuro de Nathan Drake. Tudo foi decidido conforme cada projeto avançava.

A abordagem de Barlog: planejamento a longo prazo e seus desafios

Cory Barlog, por outro lado, segue um caminho diferente. Ele trabalha com uma visão de longo prazo e gosta de inserir elementos de conceitos antigos em projetos futuros. No entanto, ele admite que essa estratégia é extremamente desgastante.

“É mágico, mas também a coisa mais prejudicial à saúde. Você tem centenas de pessoas envolvidas por anos, e no próximo projeto, uma nova equipe entra com ideias diferentes. Tentar costurar todas essas peças é um enorme desafio.”

Essa tensão criativa se reflete no desenvolvimento de God of War. O planejamento de longo prazo ajudou a dar coesão à história de Kratos, mas ao custo de um grande estresse para a equipe.

A paixão pelos jogos e os desafios pessoais

Além do processo de criação, Druckmann falou sobre sua relação pessoal com os jogos e como a paixão pela arte o impulsiona. Ele contou um momento marcante nos bastidores da série de The Last of Us, quando Pedro Pascal, brincando, perguntou se ele realmente gostava de arte.

“Eu disse defensivamente: ‘Sim, claro!’ E ele respondeu: ‘É por isso que eu me levanto todas as manhãs. É isso que eu vivo e respiro.’ Aquilo me marcou profundamente. É exatamente por isso que fazemos o que fazemos.”

Druckmann também comentou sobre o estresse do desenvolvimento de jogos, revelando que chegou a ter ataques de pânico.

“É um trabalho extremamente estressante, mas fazemos isso porque amamos. Apesar das ameaças, das críticas e de toda a negatividade, temos a sorte de trabalhar com as pessoas mais talentosas e criar experiências únicas.”

O peso da ambição e a luta contra a insatisfação constante

A conversa também abordou a pressão interna que move grandes criadores. Barlog falou sobre a busca incessante por novos desafios e a dificuldade de encontrar satisfação no sucesso.

“Você luta, trabalha, se sente incompreendido. Então, finalmente, chega ao topo da montanha que sonhou escalar. Mas, em vez de aproveitar o momento, a única coisa que sua mente diz é: ‘Olha aquela outra montanha ali, ainda mais alta.”

Ele descreveu essa obsessão como um “demônio interno” que nunca permite que a pessoa desacelere. Mesmo quando colegas e amigos alertam sobre a necessidade de descansar, a pressão para continuar criando é constante.

A conversa entre Druckmann e Barlog revelou não apenas as diferenças entre suas abordagens criativas, mas também o alto custo emocional de liderar algumas das franquias mais icônicas da indústria. Entre o desejo de inovar e o peso das expectativas, ambos seguem em frente, impulsionados pela mesma paixão que os fez entrar nesse mundo.