Aquisição de US$ 82,7 bilhões reacende debate sobre o futuro do estúdio, mas plataforma promete preservar o modelo tradicional
A aquisição da Warner Bros. pela Netflix por US$ 82,7 bilhões gerou apreensão imediata no mercado, especialmente entre exibidores e profissionais da indústria que temiam uma migração forçada dos grandes lançamentos para o streaming. Ted Sarandos, CEO da Netflix, tratou de desmontar essas preocupações durante uma conferência do UBS em Nova York, reforçando que o estúdio continuará operando com o mesmo modelo de distribuição que sempre guiou seus maiores sucessos. Sarandos deixou claro que a Netflix não pretende interferir na estrutura consolidada da Warner, tampouco reduzir a importância das salas de cinema.
O executivo reconheceu publicamente que a empresa nunca teve um papel relevante no circuito tradicional de exibição, mas afirmou que isso muda com a incorporação da Warner ao grupo. Segundo ele, o compromisso é simples: os filmes seguirão estreando nos cinemas, preservando a lógica que sustenta blockbusters e franquias de alto impacto. Ele foi direto ao ponto:
“Não compramos esta empresa para destruir esse valor.”
Um estúdio ainda dominante nas bilheterias globais
O posicionamento da Netflix vem na esteira de um ano extremamente lucrativo para a Warner Bros. Minecraft – O Filme ficou a poucos milhões de alcançar a marca de US$ 1 bilhão, enquanto Superman e Sinners consolidaram outra bilheteria bilionária. Para Sarandos, esses números deixam claro que obras desse porte só atingem tamanho alcance quando são pensadas primeiro para o público de cinema, e esse ciclo de sucesso não será alterado.Esse compromisso marca um contraste direto com a política usual da Netflix, que tradicionalmente limita suas janelas de cinema a poucas semanas ou até poucos dias antes da estreia no catálogo. O caso de Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out é um exemplo clássico dessa abordagem reduzida. Com a nova aquisição, porém, a lógica de lançamentos será a da Warner: ampla, planejada e com forte dependência do mercado de salas.
A confirmação da compra também reacendeu os movimentos competitivos entre grandes conglomerados. Logo depois do anúncio, a Paramount tentou oferecer uma contrapartida, alegando que não recebeu abertura suficiente para negociar antes e apresentando uma proposta de US$ 100 milhões que, obviamente, não foi suficiente para evitar a conclusão do acordo.
Polêmica: Netflix ignora valor da divisão de games da Warner
Em paralelo ao debate sobre cinema, outro tema surgiu como um alerta para entusiastas de jogos. Durante uma reunião com investidores, Gregory Peters, co-CEO da Netflix, afirmou que a divisão de games da Warner Bros. não influenciou o valor oferecido pela empresa. Na prática, gigantes como Hogwarts Legacy, Mortal Kombat, Batman Arkham e toda a linha LEGO Games foram considerados irrelevantes para a avaliação total. Peters justificou a decisão dizendo que, dentro do “escopo total” da Warner, os jogos representam uma fatia pequena. O comentário chamou atenção por ignorar o impacto comercial de títulos como Hogwarts Legacy, o jogo mais vendido de 2023 nos Estados Unidos, com 34 milhões de unidades em apenas um ano. Mesmo com turbulências internas e falhas como Suicide Squad: Kill the Justice League e o desempenho instável de MultiVersus, a Warner Bros. Games ainda é proprietária de algumas das marcas mais poderosas do setor.
A falta de interesse da Netflix revela uma estratégia focada exclusivamente no mobile, o único segmento de jogos no qual a empresa realmente investe. Os repetidos fracassos da plataforma em tentar se inserir no mercado de consoles e PC explicam por que a parte mais robusta do portfólio da Warner foi praticamente descartada na hora de calcular o valor da compra. Peters admitiu que marcas como Hogwarts podem ser usadas dentro do ecossistema da Netflix, mas deixou claro que o potencial de adaptações para mobile (e não produções de grande orçamento) é o que interessa no momento. O recado é evidente: não haverá investimento imediato para reviver projetos ambiciosos, tampouco incentivo para franquias como Batman Arkham, Shadow of Mordor ou futuros títulos da Monolith.
Esse cenário preocupa desenvolvedores e fãs que acompanham a trajetória do braço de games do estúdio. Sem prioridade dentro da nova estrutura, as equipes podem enfrentar estagnação criativa e ausência de financiamento para projetos complexos. A tendência, ao menos neste momento, é clara: o foco será em adaptações simplificadas para celular, deixando de lado jogos AAA que sustentaram o legado da Warner no setor. Enquanto os cinemas parecem garantidos, o mesmo não se pode dizer dos estúdios responsáveis por algumas das franquias mais influentes dos videogames. A Netflix assegura estabilidade para as telonas, mas o futuro dos gamers dentro desse novo conglomerado permanece nebuloso.
