Novo Call of Duty desperta críticas da comunidade devido ao uso intensivo de imagens geradas por inteligência artificial em mapas, cartões de chamada e ícones de prestígio.
O lançamento de Call of Duty: Black Ops 7 trouxe à tona uma discussão que já vinha crescendo na comunidade de fãs da franquia: o uso crescente de artes geradas por inteligência artificial em elementos visuais do jogo. Apesar de se tratar de uma das franquias mais lucrativas da indústria, com faturamento anual superior a US$ 1 bilhão, a Activision optou por substituir grande parte do trabalho manual de ilustradores por ferramentas automatizadas, levantando debates sobre qualidade, custo e valor para o consumidor. O uso de IA em Call of Duty não é novidade, mas se intensificou nos últimos anos. Em Modern Warfare 3 (2023), jogadores já encontraram cartões de chamada gerados por IA em pacotes cosméticos pagos.
No caso de Black Ops 6, a controvérsia envolveu um personagem temático de Natal: o “Papai Noel zumbi”, que foi notado pelos fãs por ter seis dedos, uma característica típica de falhas de ferramentas generativas. Agora, com Black Ops 7, os elementos de IA se espalham por praticamente todos os cantos do jogo: pôsteres nos mapas, detalhes de cenário borrados e uma grande quantidade de cartões de chamada exibindo o visual típico das ferramentas generativas.


Estilo visual e composições inusitadas
Parte da controvérsia gira em torno do estilo adotado pelas imagens. Muitas delas seguem um padrão semelhante ao que se popularizou recentemente nas redes sociais como “anime Ghibli genérico”, com cores suaves e composições que remetem a mundos imaginativos. Algumas imagens, no entanto, chegam a níveis absurdos, como um cavaleiro tendo o capacete mordido por um peixe enquanto aldeões observam, ilustrando o quanto a geração automática pode criar cenas inesperadas e até desconexas com o contexto do jogo. Os ícones de Prestígio, tradicionalmente símbolos de status dentro da franquia, também apresentam evidências claras de geração automática. Esse detalhe tem incomodado muitos jogadores que esperam um nível de cuidado visual proporcional ao preço do jogo e à reputação da série.
O impacto nas percepções dos jogadores é imediato. O aviso presente na página de Black Ops 7 no Steam declara claramente que “ativos in-game foram desenvolvidos com o uso de ferramentas de IA generativa”. A mensagem, embora transparente, reforça a sensação de que o investimento financeiro do consumidor não corresponde necessariamente à dedicação manual ou artística esperada. Jogadores questionam: se a franquia mais famosa e lucrativa do mundo está economizando até na arte básica, pelo que exatamente se está pagando US$ 70? Para muitos, a decisão da Activision representa um passo adiante em uma tendência preocupante da indústria, onde cortes de custos podem estar prevalecendo sobre a entrega de qualidade, mesmo em títulos AAA.
Implicações para a indústria
O caso de Black Ops 7 não é isolado; ele reflete um debate maior sobre o uso de IA em videogames, incluindo questões de ética, propriedade intelectual e impacto na percepção de valor pelo público. Enquanto as ferramentas automatizadas oferecem rapidez e eficiência, a substituição de artistas humanos em franquias de alto orçamento levanta preocupações sobre criatividade, consistência e identidade visual dos jogos. Especialistas afirmam que a tendência de depender de IA para gerar ativos visuais pode se tornar um padrão em títulos de grande porte, especialmente em jogos com múltiplas expansões e atualizações constantes. Porém, a reação da comunidade sugere que há um limite para a tolerância do público quando se trata de qualidade percebida versus economia de custos.
Call of Duty: Black Ops 7 tornou-se, assim, um caso emblemático sobre o equilíbrio entre inovação tecnológica e experiência do jogador. Enquanto a franquia mantém sua capacidade de entregar ação intensa e multiplayer robusto, a controvérsia sobre artes geradas por IA evidencia que o público ainda valoriza o toque humano na criação de jogos, especialmente em franquias que comandam preços premium e uma base de fãs global exigente. Se essa tendência continuar, a indústria precisará lidar com uma nova questão: até que ponto a eficiência das ferramentas de IA pode substituir talento humano sem comprometer a percepção de qualidade e o valor real para os jogadores?
