Review | Elden Ring: Nightreign – Um experimento ousado da FromSoftware entre cooperação e caos

Review | Elden Ring: Nightreign – Um experimento ousado da FromSoftware entre cooperação e caos

Com Elden Ring: Nightreign, a FromSoftware rompe (mais uma vez) com as convenções que ela mesma criou. A nova experiência derivada do universo de Elden Ring não é exatamente uma expansão e tampouco uma sequência direta. Em vez disso, apresenta uma proposta própria: uma estrutura roguelite, cooperativa e intensamente acelerada.

Ao longo de 40 horas, conquistei a platina do jogo. Mas o que Nightreign oferece vai além disso. Com mais de 89 horas acumuladas, posso dizer que mergulhar nas quests opcionais e nos fragmentos de lore espalhados pela ilha de Limveld torna essa uma das experiências mais envolventes — e também mais desafiadoras — já criadas pela FromSoftware.


Um novo formato para uma velha batalha

A estrutura básica de Nightreign se distancia do RPG de mundo aberto original. Agora, o jogo acontece em runs fechadas, com ciclos de três dias in-game. Nos dois primeiros, o objetivo é explorar Limveld, farmar equipamentos, subir de nível e derrotar inimigos para se preparar para o confronto final contra um dos temidos Nightlords, os novos chefes que coroam cada jornada.

O mapa é fixo, mas os eventos e locais de interesse são aleatórios a cada nova partida, exigindo planejamento rápido e decisões estratégicas sob constante pressão. Há também um “anel da noite” que se fecha progressivamente, como em jogos de battle royale, encurtando o tempo e o espaço disponíveis.

A proposta de Nightreign é clara: entregar o núcleo da experiência Soulsborne em runs intensas de cerca de 45 minutos, condensando progressão, exploração, combate e chefes em uma fórmula mais direta — e imprevisível.


O melhor e o pior do cooperativo

Desde sua concepção, Nightreign foi pensado para partidas com três jogadores. Isso se reflete em todos os aspectos do game design: encontros com múltiplos inimigos em posições separadas, mecânicas de reviver aliados durante as lutas e chefes que demandam coordenação entre papéis distintos, como tanque, DPS e suporte.

O modo solo existe, mas é visivelmente desbalanceado. Ainda que haja um aumento no dano causado pelo jogador sozinho, as limitações permanecem severas: não há suporte de revives, os encontros são mais longos e punitivos, e as falhas são amplificadas pela ausência de qualquer margem de erro. Além disso, o sistema de matchmaking, apesar de funcional, é limitado: não há suporte para crossplay, comunicação por voz ou formação de grupos com apenas dois jogadores.

Isso transforma a experiência solo em um exercício de persistência — recompensador para os mais dedicados, mas desestimulante para quem busca progressão consistente.


Classes, progressão e builds emergentes

A introdução dos Nightfarers marca uma mudança fundamental no sistema de classes da FromSoftware. São oito opções, cada uma com três habilidades únicas e especializações claras, indo desde arquetípicos como arqueiros e conjuradores, até variantes mais técnicas, como o Executor com seu foco em parry.

A progressão entre runs se dá por meio de Relíquias e das Remembrances — pequenas campanhas narrativas atreladas a cada classe. Essas Remembrances desbloqueiam melhorias passivas, equipamentos e trechos de lore, oferecendo incentivos para explorar o jogo com diferentes personagens.

É um sistema eficiente, ainda que limitado. A ausência de personalização profunda de builds, como no Elden Ring original, pode frustrar jogadores acostumados à liberdade absoluta. Aqui, cada classe tem armas e atributos praticamente fixos, com variações surgindo apenas da aleatoriedade do loot.


Entre o novo e o reaproveitado

Visualmente, Nightreign herda praticamente tudo de Elden Ring. A direção de arte continua impecável, mas o uso extensivo de assets reaproveitados limita a sensação de novidade. Praticamente todas as armas, armaduras, magias e inimigos vêm do jogo base — com exceção dos Nightlords, que são os grandes destaques em termos de design e desafio.

O sistema de loot aleatório contribui para a variedade entre runs, e ver armas icônicas como Rivers of Blood ou a Espada da Noite e Chama reaparecendo com habilidades diferentes ainda empolga. No entanto, a ausência de armamentos ou magias novas deixa uma lacuna considerável.

Já o combate é o ponto mais sólido da experiência. Mais rápido, direto e fluido que no jogo base, ele ganha novo fôlego com a adição de habilidades de classe e ultimates, criando sinergias inesperadas a cada partida. O domínio dessas novas mecânicas é essencial para o sucesso.


Audiovisual e performance

A ambientação sonora mantém o alto padrão da franquia. A trilha da nova Roundtable Hold é um dos temas mais melancólicos e marcantes do jogo, e as batalhas contra os Nightlords são acompanhadas por composições de tirar o fôlego. Em termos de performance, o jogo roda bem no PS5, com boa estabilidade e tempos de carregamento rápidos.

No entanto, a dublagem sofre com atuações pouco inspiradas e uma entrega abaixo da média para os padrões da FromSoftware — um detalhe que não compromete a experiência, mas destoa do conjunto.


Conteúdo, duração e replay

Embora o conteúdo principal possa ser vencido em cerca de 20 a 30 horas, o alto fator de rejogabilidade faz Nightreign brilhar no médio prazo. Cada Nightfarer tem sua linha narrativa, desafios específicos e equipamentos a desbloquear. E, com DLCs já anunciados, há potencial de vida longa ao game.

É uma pena, no entanto, que a progressão visual seja limitada: são apenas seis visuais por personagem, com poucos incentivos cosméticos além disso.


Veredito

Elden Ring: Nightreign é, acima de tudo, um jogo que exige as condições certas para brilhar. Quando jogado em grupo, com estratégia e sincronia, oferece algumas das batalhas cooperativas mais memoráveis já feitas pela FromSoftware. Mas sua estrutura limitada, dependente do multiplayer e carente de inovação real em conteúdo, pode afastar parte da base que consagrou o estúdio.

Para os fãs de Souls e apreciadores do combate refinado da série, Nightreign é imperdível. Mesmo com suas arestas, ele prova que a FromSoftware ainda sabe ousar — e acertar.


Elden Ring Nightrein

Elden Ring: Nightreign é, acima de tudo, um jogo que exige as condições certas para brilhar. Quando jogado em grupo, com estratégia e sincronia, oferece algumas das batalhas cooperativas mais memoráveis já feitas pela FromSoftware. Mas sua estrutura limitada, dependente do multiplayer e carente de inovação real em conteúdo, pode afastar parte da base que consagrou o estúdio. Para os fãs de Souls e apreciadores do combate refinado da série, Nightreign é imperdível. Mesmo com suas arestas, ele prova que a FromSoftware ainda sabe ousar — e acertar.
8.8
Muito Bom