Cloudberry Kingdom chegou ao PS5 com versões nativas de PS4/PS5, mas o detalhe que virou notícia é outro: o pacote inclui a edição original de PS3 rodando via emulação local em um aplicativo de PS5, usando o RedoEngine da RedoApps.
Durante anos, a retrocompatibilidade do PlayStation 3 virou uma espécie de “Santo Graal” para a comunidade. Não por falta de interesse do público, mas por um motivo bem direto: o PS3 é, de longe, o console mais complicado de “replicar” de forma confiável em hardware moderno, graças à arquitetura do Cell e ao uso das SPUs. Na prática, no ecossistema atual do PlayStation 5, jogos de PS3 costumam aparecer principalmente via streaming (PS Plus Premium), e não como downloads jogáveis localmente.
Por isso, a notícia publicada pela Digital Foundry chamou tanta atenção: o site testou o que seria o primeiro jogo de PS3 rodando por emulação local no PS5. E o título escolhido é inesperado: Cloudberry Kingdom (2013), um plataforma com fases geradas proceduralmente, conhecido por ser bem exigente (inclusive entre trophy hunters, já que a lista de troféus no PS3 é famosa pela dificuldade extrema).
O que aconteceu exatamente
O relançamento de Cloudberry Kingdom foi feito pela RedoApps e, segundo a Digital Foundry, o pacote disponível na PlayStation Store oferece três downloads: versões nativas de PS4 e PS5 e, como “bônus”, a Cloudberry Kingdom: PlayStation 3 Edition.
A pegadinha aqui é que essa “PS3 Edition” não é um aplicativo de PS3 nem um streaming: trata-se de um app de PS5 que executa o jogo de PS3 por meio de emulação local. Ou seja, o console interpreta as instruções do software original e as reprocessa no hardware do PS5, tentando entregar o comportamento do jogo como ele era no PS3.

Quem é a RedoApps e o que é o RedoEngine?
De acordo com a reportagem, a RedoApps é uma equipe pequena formada por Sayed Mahmood Alawi e Jean-Philip Desjardins. Eles afirmam que passaram os últimos anos trabalhando no RedoEngine, descrito como uma suíte de emuladores voltada para PS1, PS2 e PS3.
Um ponto importante: o estúdio reforça que a solução deles não tem relação com o popular emulador de PC RPCS3. A comparação, inclusive, é ingrata por um motivo óbvio: o RPCS3 tem mais de uma década de desenvolvimento e testes feitos por comunidade, enquanto uma solução comercial tende a priorizar eficiência e compatibilidade “caso a caso”, título a título.
Por que emular PS3 é tão difícil?
Ao contrário do PS1 e do PS2, o PS3 tem um “coração” bem exótico: o Cell Broadband Engine. Na prática, além de um núcleo principal, o sistema depende de unidades especializadas (as famosas SPUs) que muitos jogos exploraram de maneiras diferentes ao longo da geração.
Isso cria um pesadelo técnico para emulação: não basta “rodar o jogo”, é preciso reproduzir timings, comportamento e chamadas específicas que podem variar muito de título para título, principalmente em produções maiores. É por isso que, historicamente, o acesso moderno a jogos de PS3 no PS5 foi empurrado para o streaming: é uma forma de “pular” a necessidade de execução local.

A abordagem: HLE, com um “truque” para SPU
Segundo Alawi, o RedoEngine usa uma abordagem HLE (High-Level Emulation). Em vez de tentar simular componente por componente em baixo nível, o HLE foca em entregar o mesmo resultado final do hardware original, reproduzindo o comportamento esperado pelo software.
No caso de Cloudberry Kingdom, a RedoApps explica que o uso de SPU seria limitado a tarefas como decodificação de áudio e vídeo. E aqui entra a parte mais interessante: em vez de emular isso de forma pesada, o estúdio diz ter “engancharado” essas chamadas e substituído por implementações nativas do console moderno. Na prática, eles afirmam que desativaram completamente a SPU para esse lançamento específico, o que ajuda a reduzir custo e evitar problemas de timing.
O que muda na prática: “PS3 emulado” vs versão nativa de PS5
A Digital Foundry relata que, ao abrir a edição emulada, o usuário vê uma tela de estilo bem “Sony”, explicando o mapeamento do DualShock 3 para o DualSense. Também há suporte a save states (no caso do RedoEngine, chamados de “RedoStates”), algo que já virou padrão nos relançamentos de clássicos de PS1/PS2 no ecossistema atual.
Em termos de imagem, a diferença mais clara aparece na resolução:
–1080p na edição de PS3 (emulada, alinhada ao original).
-4K na versão nativa de PS5.
O site também menciona pequenos problemas na edição emulada, como seams visíveis em alguns fundos e um pequeno engasgo de áudio ao carregar novas fases, com correções prometidas em atualização.
Mas isso é “a retro do PS3 no PS5” de verdade
Por enquanto, é melhor tratar como um marco inicial, não como solução definitiva para toda a biblioteca. A própria RedoApps admite que Cloudberry Kingdom é um jogo relativamente “nicho” e que começar por indies facilita o processo. Ainda assim, existe um sinal animador: o estúdio afirma ter testado a tecnologia com cerca de 10 jogos durante o desenvolvimento, incluindo títulos de diferentes tamanhos, e menciona que ao menos um deles seria mais pesado no uso de SPU (sem revelar nomes).
Ou seja: não dá para olhar para esse lançamento e concluir que o PS5 vai rodar, amanhã, uma lista enorme de AAA do PS3 em download local. Mas dá para dizer que existe, agora, um exemplo comercial e funcional de PS3 rodando localmente no PS5, fora do modelo de nuvem.

E a Sony, onde entra nisso?
Esse lançamento não é uma confirmação de um “emulador oficial” da Sony. Porém, ele chega em um momento em que o assunto já estava esquentando: recentemente, surgiram reportagens indicando que a Implicit Conversions (estúdio envolvido nos relançamentos/soluções de clássicos no ecossistema do PS Plus) também estaria pesquisando e trabalhando em caminhos para emulação de PS3, com expectativas que poderiam ir de PS5 até PS6.
Na prática, o cenário parece estar mudando para melhor: se mais de uma empresa está investindo em tecnologia e testes, aumenta a chance de vermos mais projetos do tipo, mesmo que o avanço aconteça jogo a jogo, em vez de uma “retro total” liberada de uma vez.
Disponibilidade
Segundo a Digital Foundry, Cloudberry Kingdom já apareceu primeiro no mercado asiático e deve chegar ao ocidente em seguida. A PlayStation Store também lista versões do pacote em diferentes regiões, reforçando a ideia de um lançamento gradual.
Fonte:
- Digital Foundry — We’ve Played The First PS3-Emulated Game For PS5: 🔗Link
- PlayStation Store — Cloudberry Kingdom (página do produto, variações por região): 🔗Link
- PSX Brasil — Implicit Conversions trabalha na emulação do PS3; espera conseguir para PS5 e PS6: 🔗Link
- PlayStation — PS Plus (contexto de PS3 no Premium via streaming): 🔗Link
