Ex-CEO da Nexon defende uma mudança profunda no desenvolvimento de jogos e aponta o sucesso de Arc Raiders como modelo do futuro
O ex-CEO da Nexon, Owen Mahoney, reacendeu o debate sobre o futuro dos jogos AAA ao afirmar que o modelo atual está “estruturalmente em seus últimos dias”. Em entrevista ao The Game Business, o executivo destacou que o setor pode — e deve — aprender com a abordagem adotada pela Embark Studios, criadora de Arc Raiders.
Mahoney revelou que não hesitou ao investir na Embark. Anos depois, insistiu em adquirir o estúdio, mesmo enfrentando forte resistência de investidores e analistas que viam a compra de um time sem lucro e sem jogos lançados como uma estratégia insustentável. Hoje, o sucesso de Arc Raiders serve como resposta.
A força da Embark: uma equipe que pensa diferente
O executivo atribui sua decisão ao calibre da equipe da Embark, formada por veteranos da DICE, conhecidos por Battlefield, e liderada por Patrick Söderlund, ex-diretor da EA. Mahoney próprio havia participado da aquisição da DICE no passado, o que reforçava sua confiança no grupo.
Ele citou o desempenho de The Finals como prova da competência da equipe — o jogo foi lançado em 2023 com enorme impacto, chegando a quase 20 milhões de downloads. Apesar da queda rápida na base de jogadores, Mahoney afirmou que o estúdio identificou os problemas com agilidade e tomou medidas sem hesitação.
O cancelamento que mudou tudo
Originalmente, Arc Raiders seria o primeiro jogo da Embark. Mas após testes internos, o estúdio concluiu que o sistema não era divertido o suficiente — e cancelou o projeto. Para Mahoney, essa decisão resume a filosofia da Embark:
“Jogos são sistemas. Você sente quando algo funciona e quando não funciona. Quando essa mentalidade está internalizada, as decisões ficam rápidas.”
Tecnologia a serviço da diversão — não do espetáculo
Mahoney destacou que Arc Raiders se beneficia de escolhas técnicas ousadas. Em vez de despejar recursos em gráficos hiperrealistas, a Embark priorizou a mecânica central. O mundo do jogo foi criado com scanner a laser e dados de satélite, importados diretamente para as ferramentas de desenvolvimento — um salto que elimina horas de trabalho manual e permite focar na experiência do jogador.
Segundo ele, essa postura deveria ser a regra, não exceção:
“Gastar energia em visual é secundário. Diversão é o que importa — e decisões como essa são raríssimas.”
A crise estrutural dos jogos AAA
Em seu blog, Mahoney criticou o medo generalizado que domina as grandes empresas. Para evitar falhas — e discussões com conselhos administrativos — estúdios insistem em fórmulas previsíveis, cada vez mais caras, arriscando a própria sustentabilidade.
Sua avaliação é contundente:
“A indústria AAA está estruturalmente em seu fim. Sem uma mudança profunda, o colapso será ainda maior do que já estamos vendo.”
Ele compara o que está acontecendo agora ao impacto de fenômenos como Minecraft ou Clash Royale, jogos que desafiaram a lógica do mercado e abriram novos caminhos quando ninguém esperava.
IA como novo divisor de águas
Apesar da crítica dura, Mahoney enxerga um horizonte promissor — impulsionado pela inteligência artificial. Ele acredita que, assim como a internet transformou o setor no passado, a IA será o próximo catalisador de crescimento.
Para ele, a indústria está presa demais às demandas diárias para enxergar o futuro. Jogos como Arc Raiders mostram que inovar continua sendo não apenas possível, mas necessário.
Fonte: TheGameBusiness
