ARC Raiders: de co-op contra máquinas a um PvPvE que testa a paciência da comunidade

ARC Raiders: de co-op contra máquinas a um PvPvE que testa a paciência da comunidade

Embark Studios transformou projeto originalmente cooperativo em experiência PvPvE com foco em acessibilidade e comportamento humano imprevisível


ARC Raiders nasceu como uma proposta clara: um shooter cooperativo onde equipes se uniriam para enfrentar máquinas formidáveis e gigantescas. A ideia inicial era reforçar colaboração, tática e a sensação de desafio contra inimigos controlados pela IA. Com o tempo, entretanto, decisões de design internas levaram o jogo a incorporar elementos PvP, convertendo a experiência em um PvPvE onde, além das máquinas, os próprios jogadores passaram a ser ameaças constantes. No documentário recente sobre o desenvolvimento, membros da Embark, incluindo David Dixon, diretor de animação, explicaram a lógica dessa transição.

A opção pelo PvP foi justificada pela riqueza de situações que o comportamento humano traz a cada partida. Jogar contra outros humanos cria permutações de ação e reação que uma IA dificilmente reproduz, e essa variedade tornou-se um objetivo de design. A intenção do estúdio não foi apenas aumentar a imprevisibilidade, mas também tornar o jogo acessível: a equipe trabalhou para que mesmo jogadores menos habilidosos pudessem se divertir, com mecânicas e cenários que valorizam posicionamento, habilidades situacionais e decisões táticas além da mera mira.

O desafio da acessibilidade

Apesar das boas intenções declaradas, a realidade pós-lançamento mostrou que equilibrar competição e acolhimento é muito mais complexo do que antecipado. Nos primeiros dias, a comunidade deu sinais promissores de cooperação espontânea, com jogadores ajudando uns aos outros e formando alianças temporárias. Esse período, porém, foi curto. Conforme a progressão dos sistemas de loot e o avanço em equipamentos e builds, a tendência natural de competição prevaleceu. A caça por recursos e a busca por vantagem competitiva transformaram encontros que antes poderiam ser colaborativos em confrontos agressivos frequentes, reduzindo a incidência de ajuda mútua.

Um ponto curioso exposto no documentário e por experimentos da própria comunidade é que as dinâmicas sociais variam conforme a plataforma. Jogadores de PC mostraram uma tendência maior à resiliência pacífica e ao jogo pragmático, enquanto usuários de console, especialmente no PS5, demonstraram comportamentos mais agressivos e inclinados ao confronto direto. Essas diferenças geram metagames e identidades comunitárias distintas, forçando a Embark a considerar ajustes específicos por plataforma para manter a experiência alinhada às intenções originais.


No fim das contas, ARC Raiders acabou se tornando um experimento social tanto quanto um shooter. A transição para PvPvE expandiu o escopo emergente das partidas, mas também colocou o estúdio diante de dilemas práticos: equilibrar progressão e risco, evitar que mecânicas de poder destruam a cooperação e construir incentivos para que jogadores menos experientes não se sintam permanentemente penalizados. A Embark mostrou consciência do problema e adotou soluções projetuais voltadas à acessibilidade, mas o documentário deixa claro que a comunidade, com seus próprios impulsos e culturas por plataforma, continua sendo o fator mais imprevisível de todos.