Apesar de alcançar receitas históricas e expandir investimentos em inteligência artificial e jogos, a Microsoft já demitiu mais de 15 mil funcionários apenas em 2025, expondo um paradoxo cada vez mais comum no setor de tecnologia: crescimento agressivo acompanhado de cortes massivos. Em uma carta aberta publicada no blog oficial da empresa, o CEO Satya Nadella quebrou o silêncio sobre a onda de desligamentos, classificando a decisão como um passo necessário para uma reestruturação estratégica profunda.
O objetivo, segundo ele, é transformar a Microsoft de uma tradicional desenvolvedora de software em um ecossistema centrado em plataformas de IA, automação e agentes inteligentes.
Da criação de ferramentas à construção de plataformas
A lógica por trás dos cortes está diretamente ligada à visão da empresa para o futuro digital.
“Não se trata mais de criar ferramentas para tarefas específicas. O desafio agora é construir plataformas que permitam a qualquer pessoa criar as suas próprias ferramentas”, escreveu Nadella.
Em outras palavras, funções tradicionais estão sendo substituídas por cargos moldados à era da inteligência artificial, o que deixou milhares de posições obsoletas praticamente da noite para o dia. A mudança reflete um reposicionamento agressivo da companhia, que busca liderar a próxima geração tecnológica não apenas com produtos prontos, mas com infraestrutura inteligente para que empresas e usuários criem suas próprias soluções.
Xbox e Activision: pressão e cortes
A divisão de games da Microsoft foi uma das mais afetadas. Estima-se que mais da metade das demissões de 2025 atingiram diretamente a área de jogos, impactando estúdios da marca Xbox — muitos deles fechados nos últimos meses. O movimento ocorre em meio à reestruturação pós-compra da Activision Blizzard, concluída em 2023 por US$ 68,7 bilhões.
Segundo Brad Smith, presidente da Microsoft, a empresa investiu mais de US$ 80 bilhões em aquisições apenas neste ano. A mensagem interna, após a maior compra da história do setor, foi clara: é hora de cortar custos operacionais para justificar o investimento e responder à crescente cobrança por resultados. Apesar do Game Pass e do apelo dos consoles Xbox Series S e X, a divisão ainda enfrenta dificuldades para competir com Nintendo e Sony. A falta de títulos exclusivos de peso e o retorno financeiro abaixo do esperado colocaram a área sob forte escrutínio.
O paradoxo do sucesso no Vale do Silício
Nadella reconheceu a contradição central da situação: como uma empresa em ascensão pode justificar tantos cortes? A resposta, segundo ele, está na lógica volátil do setor de tecnologia.
“Este é o enigma do sucesso em um setor onde não há valor de franquia garantido. O progresso é dinâmico, dissonante e, por vezes, exige rupturas”, declarou o CEO.
Para a Microsoft, essa ruptura significa abandonar práticas tradicionais e acelerar uma transição onde crescimento e demissões não são mutuamente excludentes, mas partes de uma mesma transformação estrutural. Mesmo que o número global de funcionários permaneça estável, os perfis profissionais estão mudando drasticamente — com novas funções surgindo em áreas que antes sequer existiam.
O futuro da Microsoft: inteligência como serviço
Com a reformulação em andamento, a Microsoft deixa claro que seu foco está em liderar a era da inteligência artificial, não apenas como produtora de soluções, mas como plataforma capacitada para criar agentes, automatizar processos e reinventar fluxos de trabalho. A empresa, que hoje é uma das mais valiosas do mundo, caminha para se tornar o que Satya Nadella chamou de “motor de inteligência” e nesse novo cenário, as mudanças drásticas de 2025 podem ser apenas o começo.