Review – Death Stranding 2: On the Beach | Uma Jornada Humana e Impactante

Review – Death Stranding 2: On the Beach | Uma Jornada Humana e Impactante

Death Stranding 2 não é um jogo para todos e, francamente, nunca quis ser. Mas diferente do primeiro, ele faz um esforço visível para acolher quem está chegando agora. Isso me surpreendeu. É como se Kojima dissesse: “Você não precisa entender tudo logo de cara, apenas caminhe comigo.” E eu caminhei. Desde os primeiros passos, percebi que essa continuação é mais dinâmica, direta e compreensível. Se antes o ritmo era contemplativo ao extremo, agora há urgência e propósito, sem abrir mão da essência.


O que não muda é o coração do jogo. Ainda estamos falando de conexões, de ir de um ponto ao outro em meio a terrenos hostis, levando esperança em forma de carga. Mas essa jornada está mais rica, variada e cheia de surpresas. A experiência, que no original era quase meditativa, agora também pulsa com ação, infiltração, combate e descobertas narrativas que me prenderam até o fim.


Uma travessia mais fluida, mas ainda desafiadora

Nas cerca de 40 horas que passei em Death Stranding 2, jogando no PS5 base com o modo desempenho ativado, senti que o peso da jornada estava melhor equilibrado. O jogo continua desafiador (enfrentando avalanches, nevascas, dunas escaldantes e precipícios traiçoeiros), mas o deslocamento está mais ágil. Usei veículos em praticamente todo o tempo de mundo aberto, e eles não apenas funcionam bem, como parecem pensados para tornar a experiência mais confortável sem banalizá-la.


O mundo, construído na Decima Engine, é estonteante. Paisagens fotorrealistas, efeitos climáticos intensos e uma topografia viva contribuem para uma sensação constante de presença. Jogar com o DualSense torna tudo ainda mais tátil. Cada tipo de solo, cada colisão ou frenagem gera uma resposta sensorial. Não é algo que se nota apenas nos momentos grandiosos, mas também nos pequenos — pisar em areia fofa ou deslizar sobre gelo trazem sensações distintas que me faziam esquecer que estava no setup.


A estrutura social, agora mais integrada, também me impactou. Cruzei com pontes, escadas, torres e plataformas erguidas por outros jogadores, e em momentos solitários, isso me trouxe conforto. Saber que alguém passou por ali antes de mim, e pensou em facilitar meu caminho, reforçou a ideia de que Death Stranding continua sendo um jogo sobre empatia — mesmo sem palavras.


Combate ampliado, IA limitada

O combate ganhou protagonismo nesta sequência, e há momentos em que senti que estava quase jogando um jogo de ação tática. Missões de infiltração, uso de veículos blindados, tiroteios e confrontos em bases hostis. Tudo isso é bom, e torna a experiência mais variada. Mas há um detalhe que me incomodou: o desequilíbrio.


Armas como a escopeta de nível 2 e a sniper silenciada facilitam demais o abate de inimigos, especialmente em bases inteiras. A IA, mesmo no modo normal, tem reações limitadas e falta de coordenação. Se você entra armado e com planejamento mínimo, sai de lá sem um arranhão. Apenas no modo Brutal senti a tensão que a ambientação sugere.

Ainda assim, a nave DHV Magalhães adiciona uma camada estratégica e dramática ao jogo. Ela serve como base móvel, local de descanso, armazenamento e interação narrativa. Me vi planejando paradas nela, usando-a como ponto de respiro entre uma missão intensa e outra caminhada solitária.


Uma história que toca e transforma

Poucos jogos me prenderam tanto pela narrativa quanto Death Stranding 2. Desde a introdução, a história se move com mais fluidez, alternando entre mistério, emoção e revelações filosóficas. Não há o arrasto do primeiro jogo. Cada capítulo entrega algo relevante, seja em desenvolvimento de personagem, seja em novas perspectivas do mundo.


Norman Reedus está ainda mais entregue ao papel. Sam Porter Bridges já não é apenas um entregador relutante. É um homem cansado, marcado pela dor, mas ainda em busca de algo — nem que seja apenas sentido. Fragile, vivida por Léa Seydoux, surge como pilar emocional da trama, com um arco forte e cenas memoráveis. E Elle Fanning, como Tomorrow, brilha com uma atuação sutil e inquietante. Sua presença é magnética.

Rainy, personagem interpretada por Shioli Kutsuna, me marcou profundamente. Grávida e frágil, mas cheia de coragem, ela representa o futuro que precisa ser protegido. Seu drama pessoal, relacionado à Síndrome do Natimorto, é pesado, mas tratado com a sensibilidade que só Kojima parece conseguir equilibrar.


E então vem Tarman, vivido por George Miller. Um ex-médico, agora capitão da Magalhães. Sua serenidade, sua sabedoria contida, tornaram-no meu personagem preferido. Ele não fala muito, mas quando fala, cala tudo ao redor. É através dele que o jogo encontra seus momentos mais filosóficos, e sinceramente, foi com ele que me emocionei mais.


Temas que permanecem após o fim

Luto. Recomeço. Culpa. Conexões. Morte. Vida. E um multiverso que serve mais como metáfora do que como artifício sci-fi. Death Stranding 2 é um jogo que te faz pensar. Não com discursos ou frases prontas, mas com imagens, silêncios e pequenos gestos.

Teve um momento específico (sem spoilers) em que uma entrega simples virou uma despedida. E me pegou. Estava sozinho no mundo, carregando algo simbólico, e a música entrou. Ali, o jogo saiu da tela. Me vi pensando em pessoas, em perdas, em reconciliações que não aconteceram. É raro um jogo provocar esse tipo de sentimento de forma tão honesta.


Trilha, interface e imersão total

A trilha sonora é mais contida do que no primeiro, mas ainda impactante. O sistema de playlists, que permite ao jogador definir a trilha da jornada, é uma adição sensacional. Escolher uma música da Low Roar ou Silent Poets enquanto atravessa uma cratera muda completamente o tom da travessia.

Os menus são intuitivos, os mapas agora facilitam o planejamento de rotas e as marcações funcionam como um GPS. A nave DHV serve como central de operações, lar temporário e conexão constante com o progresso narrativo. É um mundo que responde ao jogador e que respeita seu tempo.


Rejogabilidade e valor contínuo

Mesmo após o final, o jogo oferece um epílogo com espaço para exploração, missões secundárias e entrega de cargas simbólicas. Esse “pós-créditos” funciona como catarse, e foi nele que realmente me despedi de Sam. Não há pressa. Não há pressão. Apenas a possibilidade de continuar conectando pontos, fechando círculos, cumprindo promessas.


Veredito

Death Stranding 2: On the Beach é mais do que uma sequência. É uma evolução consciente. Menos obtuso, mais acessível, mas ainda profundamente pessoal. Ele não se vende como um blockbuster, mas como uma experiência artística completa. Não agrada a todos, e não tenta. Mas para quem se deixa tocar, entrega uma jornada memorável.

Terminei o jogo exausto, reflexivo e com a sensação de que vivi algo único. Ele me fez parar. Pensar. Lembrar. E acima de tudo, sentir.


Agradecimento especial à PlayStation Brasil, que gentilmente nos forneceu a chave para review. A análise foi realizada em um PlayStation 5 base, garantindo uma avaliação fiel do desempenho técnico e da experiência completa oferecida ao público.


 

Death Stranding 2: On the Beach

Death Stranding 2: On the Beach é mais do que uma sequência. É uma evolução consciente. Menos obtuso, mais acessível, mas ainda profundamente pessoal. Ele não se vende como um blockbuster, mas como uma experiência artística completa. Não agrada a todos, e não tenta. Mas para quem se deixa tocar, entrega uma jornada memorável.
9.5
Must Play