Durante décadas, uma máxima tem guiado o desenvolvimento de videogames: “Gameplay é rei”. A ideia de que a jogabilidade — controles, mecânicas e interatividade — deve ser o principal foco de um jogo sempre foi quase inquestionável. Mas será que essa era chegou ao fim?
Para Fumito Ueda, a mente criativa por trás de obras-primas como ICO e Shadow of the Colossus, a resposta pode ser sim. Em uma entrevista ao site japonês Denfaminicogamer (via Automaton), o diretor fez uma declaração inesperada: “A era da mecânica de jogo já acabou.”
Menos mecânicas, mais significado
A conversa ocorreu ao lado de Keita Takahashi, criador de Katamari Damacy, durante a divulgação de To a T, novo título de Takahashi lançado em 28 de maio para PS5, Xbox Series X/S e PC. Ueda revelou que ficou encantado com o trailer do jogo e, ao perguntar como ele funcionava, ouviu que não havia grandes mecânicas envolvidas. A resposta o agradou imediatamente: “Isso é ótimo!”, disse ele.
Takahashi relembrou a troca com humor: “Pensei: ‘Ah, isso são palavras de um verdadeiro profissional’.” Mas o elogio de Ueda tinha um significado mais profundo — segundo ele, talvez seja hora de deixar de buscar inovação mecânica a qualquer custo.
Jogos que encantam pelo sentimento — e não só pela ação
“Não sei exatamente por que disse aquilo na hora, mas acredito que a fase das novas mecânicas já passou. Acredito que não precisamos mais inventar
gadgets ou sistemas inéditos a cada novo jogo.”
-explicou Ueda.
Para o diretor, o apelo de um game pode (e deve) vir de outras fontes: ambientação, narrativa, direção de arte.
“Mesmo sem inovações mecânicas, ainda é possível criar experiências impactantes por meio de atmosfera e estética.”
-completou.
Ueda defende que o foco deveria ser o aperfeiçoamento das mecânicas já existentes, em vez de reinventá-las a todo momento. Ele elogiou To a T por justamente fazer isso: oferecer uma experiência tranquila, carregada de estilo visual e significado. Tanto que brincou dizendo que foi o primeiro jogo que terminou em muito tempo.
O comentário de Ueda não é um manifesto contra jogabilidade, mas um convite à reflexão: talvez o futuro dos jogos esteja menos em como jogamos e mais em como nos sentimos ao jogar. E vindo de um dos criadores mais visionários da indústria, vale a pena escutar.