A Reinvenção Sombria de Astro Boy

A Reinvenção Sombria de Astro Boy

Se tem uma animação na qual eu fui com muitas expectativas e elas foram entregues e além, é Pluto, conto aqui para vocês essa experiência que já digo, todos deveriam conhecer.


Pluto chegou à Netflix como uma das grandes apostas de 2023 para os fãs de animes e ficção científica. Baseada no mangá de Naoki Urasawa (autor de Monster e 20th Century Boys), a série é uma releitura adulta e sombria de um dos arcos mais emblemáticos de Astro Boy, obra original de Osamu Tezuka, considerado o “Deus do Mangá”.

Ao transformar um clássico em um suspense psicológico com tons existencialistas e reflexões sociais, Pluto se destaca por sua profundidade narrativa, estilo visual marcante e um questionamento constante sobre o que significa ser humano, mesmo quando o protagonista é um robô.


Um mistério sobre máquinas, memória e humanidade

A trama gira em torno de Gesicht, um detetive robô da Europol, encarregado de investigar uma série de assassinatos brutais que vitimam alguns dos robôs mais poderosos do mundo, bem como seus defensores humanos. Todos os crimes têm algo em comum: os corpos são encontrados com “chifres”, uma referência direta ao misterioso assassino conhecido como Pluto.

Enquanto mergulha no caso, Gesicht é forçado a confrontar seu passado, seus sentimentos e os limites da inteligência artificial. Paralelamente, outros personagens ganham destaque, como o robô Mont Blanc, o garoto Atom (Astro Boy), e até o cientista Dr. Tenma. Cada episódio revela mais sobre os traumas, desejos e angústias de uma sociedade onde robôs e humanos coexistem, mas nem sempre em harmonia.


Um clima futurístico e melancólico

Diferente do estilo colorido e esperançoso de Astro Boy, Pluto aposta em uma estética mais sóbria, com cores frias e ambientes urbanos pesados, remetendo diretamente a obras cyberpunk. A animação, produzida pelo estúdio M2 (criado por Masao Maruyama, cofundador da Madhouse), é de altíssima qualidade, com expressões faciais detalhadas e uma fluidez que acentua os momentos de tensão e introspecção.

Ao invés de batalhas explosivas, Pluto aposta no silêncio, nos olhares e nos diálogos densos para construir sua narrativa. O resultado é uma atmosfera imersiva, que exige atenção e recompensa os mais pacientes.


Inteligência Artificial, preconceito e trauma

O ponto forte de Pluto é sua carga filosófica. A série levanta discussões profundas sobre inteligência artificial, direitos dos robôs, memória, dor, vingança e o impacto da guerra. Há uma crítica direta à desumanização promovida por grandes potências e à forma como o medo é usado como justificativa para a violência.

Além disso, a animação toca em questões emocionais como luto, culpa e empatia. Gesicht, o detetive robô, é retratado com um nível de humanidade impressionante, questionando se sentir dor e pesar não seriam exatamente o que nos torna humanos.


Apesar de uma narrativa madura e envolvente,com uma animação acima da média e temas muito complexos e profundos, Pluto tem episódios com ritmos bem lentos e pode afastar um público que espera algo com muita ação constante.

Ele também exige uma atenção e foco para não ficar perdido, pois a série não explica muitas coisas e certos pontos pode deixar o espectador com várias perguntas.

É claro por ser uma série baseada em Astro Boy, não é uma animação recomendada para crianças devido a sua classificação e temáticas envolvidas.


Conclusão: Pluto é uma obra-prima para quem busca mais do que entretenimento

Pluto não é um anime tradicional. É uma experiência. Uma mistura de ficção científica com drama humano, onde robôs carregam traumas mais profundos que muitos personagens humanos em outras séries. É um tributo respeitoso e corajoso ao legado de Osamu Tezuka, mas também uma obra que se sustenta por si só, você vai se emocionar em certos momentos e ficar se questionando quem são os verdadeiros monstros, o criador ou a criação, uma animação que merece total atenção e reconhecimento por sua beleza visual e trama surreal.