Review – Lost Records: Bloom & Rage | Parte II | O peso da memória e o fim de um verão inesquecível

Review – Lost Records: Bloom & Rage | Parte II | O peso da memória e o fim de um verão inesquecível

Aviso: Esta análise contém leves spoilers da Parte I de Lost Records: Bloom & Rage, que são importantes para contextualizar os eventos e aprofundar a compreensão da segunda metade da história. Esses trechos revelados servem apenas para situar o leitor e não comprometem a experiência completa do jogo. O desfecho final não será revelado, mas o epílogo será mencionado brevemente, sem entregar detalhes significativos


Após o encerramento comovente da primeira parte, Lost Records: Bloom & Rage retorna com sua segunda e última “fita”, trazendo de volta a sensibilidade narrativa que a Don’t Nod domina com maestria. É hora de reencontrar Swann, Nora e Autumn, agora adultas — enquanto revisitam memórias há muito tempo enterradas, marcadas por alegrias juvenis, traumas silenciosos e uma amizade que sobreviveu ao tempo.

A atmosfera nostálgica dos anos 90, tão presente na primeira metade da jornada, continua a pulsar com força, mas agora com um tom mais maduro. A leveza da adolescência dá lugar à introspecção da vida adulta, e o jogo transita com naturalidade entre esses dois momentos, construindo um elo emocional com o jogador a cada nova lembrança desenterrada.

Se a Parte I dedicou-se a estabelecer laços e apresentar personagens com calma, a Parte II mergulha de cabeça nas emoções, com um ritmo mais envolvente e uma carga dramática mais intensa. O diagnóstico de Kat — revelado no final anterior — transforma completamente a dinâmica do grupo e guia os próximos passos da narrativa com delicadeza e peso emocional na medida certa.


Emoções à flor da pele

É admirável como o roteiro equilibra realismo e simbolismo sem perder de vista a dimensão emocional da trama. A narrativa permanece centrada nos laços entre as protagonistas e nos mistérios que ainda ecoam daquele verão marcante. Entre eles, chamam a atenção o enigmático pacote que surge de forma inesperada a partir do Abismo — uma fenda misteriosa descoberta na floresta, cuja natureza permanece ambígua e aberta a interpretações, funcionando como um elo entre memória, perda e reconciliação.

Esse elemento quase sobrenatural — apresentado de forma muito mais sutil do que em outros jogos do estúdio — não busca explicações racionais. Pelo contrário, funciona como metáfora da dor, da dúvida e da transição entre o que fomos e o que nos tornamos. Sua presença constante na narrativa convida à reflexão sem jamais roubar o protagonismo das emoções humanas.


A trilha sonora como ponte entre passado e presente

A trilha sonora da segunda parte mantém a qualidade já vista na fita anterior, reforçando a ambientação e os sentimentos de forma discreta, mas eficaz. As músicas seguem alinhadas ao tom da narrativa, com destaque para as faixas que evocam os anos 90 sem soar forçadas. Elas surgem nos momentos certos, ajudando a intensificar a conexão com os personagens e dando mais peso às cenas mais emotivas, sem jamais tirar o foco da história.


Simplicidade com alma

Do ponto de vista visual, o jogo segue apostando em estilo e atmosfera ao invés de impressionar tecnicamente. O charme está nas pequenas coisas: objetos esquecidos no quarto de infância, trilhas que ecoam um passado distante, a paleta de cores que evoca lembranças com sensibilidade. A câmera de Swann, sempre presente, continua sendo um recurso narrativo sutil e poderoso, tornando o ato de recordar algo quase ritualístico.

As novas tentativas de adicionar variedade à jogabilidade — como trechos de furtividade — são bem-vindas, mas não representam o ponto forte da experiência. Ainda assim, não comprometem o todo. O foco permanece nos diálogos, nas escolhas e, sobretudo, na escuta ativa das histórias que cada personagem carrega consigo.


Um encerramento marcante — quase por completo

A conclusão principal da jornada é satisfatória, com momentos de rara sensibilidade e desfechos que respeitam as conexões construídas ao longo da trama. Há diferentes variações, de acordo com as decisões tomadas pelo jogador, o que reforça a ideia de que cada lembrança é única e pessoal.

No entanto, a cena pós-créditos destoa do tom intimista cultivado até então. Embora pareça uma tentativa de deixar portas abertas para o futuro, o artifício soa deslocado e um tanto forçado, quebrando parte da imersão emocional construída com tanto cuidado. Ainda assim, não compromete o que veio antes — apenas deixa um leve gosto agridoce no fim da fita.

Lost Records: Bloom & Rage – Parte II é uma despedida tocante e honesta. Com sua narrativa sensível, personagens cativantes e atmosfera carregada de nostalgia, a obra reafirma o talento da Don’t Nod em contar histórias que tocam o íntimo. Mesmo com tropeços, o jogo consegue emocionar — e às vezes, tudo o que queremos é apenas isso: uma história para sentir.


Agradecemos a Don’t Nod por gentilmente fornecer a chave do jogo.


Lost Records: Bloom and Rage - Fita 2

Lost Records: Bloom & Rage – Parte II é uma despedida tocante e honesta. Com sua narrativa sensível, personagens cativantes e atmosfera carregada de nostalgia, a obra reafirma o talento da Don’t Nod em contar histórias que tocam o íntimo. Não é perfeita, mas é memorável — e às vezes, tudo o que queremos é apenas isso: uma história para sentir.
8
Bom