Ubisoft rebate processo e afirma: jogadores não são donos de seus jogos

Ubisoft rebate processo e afirma: jogadores não são donos de seus jogos

Um processo recente envolvendo a Ubisoft e dois consumidores na Califórnia reacendeu a discussão sobre os limites da propriedade digital nos videogames. No centro da disputa está The Crew, título de corrida lançado em 2014, que exigia conexão constante com a internet e teve seus servidores encerrados em 2023, tornando o jogo inutilizável.

A decisão de desligar os servidores causou descontentamento na comunidade e levou à abertura de um processo judicial, agora configurado como ação coletiva. Os jogadores alegam que foram levados a crer que possuíam o jogo de forma permanente.

Ubisoft sustenta que usuários apenas adquirem licenças

Em defesa apresentada em fevereiro de 2025, os representantes legais da Ubisoft argumentam que os consumidores não compraram a propriedade do jogo, mas sim uma licença permanente de uso, sujeita a termos específicos.

“Não há justificativa para os jogadores acreditarem que adquiriram direitos irrestritos sobre The Crew.”

-afirmou Steven A. Marenberg, advogado da empresa.

Segundo a Ubisoft, os consumidores tiveram anos de acesso ao jogo e foram informados desde o início de que uma conexão constante seria necessária. A empresa destaca ainda que se reservava o direito de suspender recursos online com aviso prévio de 30 dias, conforme indicado nos termos de uso.

Consumidores apontam publicidade enganosa

Do outro lado, os demandantes Matthew Cassell e Alan Liu defendem que a Ubisoft criou a impressão de posse definitiva. Como evidência, citam o fato de que o código de ativação da mídia física só expiraria em 2099, o que, para eles, reforça a expectativa de uso duradouro.

A nova petição, protocolada em 18 de março de 2025, apresenta oito acusações formais, incluindo práticas comerciais desleais, publicidade enganosa e violações do Código de Defesa do Consumidor da Califórnia. Os advogados da Ubisoft criticam a abordagem dos autores, dizendo que o processo se apoia em múltiplas alegações desconexas, como se estivessem “testando argumentos aleatórios na esperança de que algum seja aceito”, uma estratégia apelidada por eles de “buffet jurídico”.

Outro ponto polêmico envolve a moeda virtual de The Crew, que os demandantes acreditam dever ser tratada como cartões-presente, que por lei não podem expirar no estado da Califórnia. Com o encerramento dos servidores, essas moedas digitais perderam completamente o valor.

A Ubisoft, no entanto, acredita que o processo não avançará. Para a empresa, a frustração dos jogadores por não conseguirem mais acessar um jogo com mais de dez anos não é motivo suficiente para justificar uma ação coletiva.

Discussão mais ampla sobre preservação digital

A polêmica também trouxe à tona o debate impulsionado pelo movimento “Stop Killing Games”, que defende leis que obriguem as desenvolvedoras a disponibilizar modos offline para jogos que dependem de servidores online, mesmo após o encerramento do suporte oficial. Embora a organização não esteja diretamente envolvida no processo, seu discurso ecoa o descontentamento de parte da comunidade.

Como resposta parcial às críticas, a Ubisoft adicionou opções offline em The Crew 2 e The Crew Motorfest. No entanto, o título original permanece inacessível.

Em declarações anteriores, Philippe Tremblay, chefe de assinaturas da Ubisoft, já havia sido claro: os tempos em que os jogadores eram donos de seus jogos ficaram para trás — hoje, trata-se de acesso por meio de licenças.