A influência da FromSoftware revolucionou a indústria, mas também criou expectativas rígidas que podem engessar a criatividade de estúdios e jogos
Desde o lançamento de Dark Souls, a indústria de games passou a tratar o estilo criado pela FromSoftware quase como um selo obrigatório para qualquer experiência que aposte em desafio elevado, combate meticuloso e atmosfera sombria. O problema é que esse rótulo, que nasceu como elogio, passou a funcionar como uma verdadeira camisa de força criativa para muitos desenvolvedores.
Ao tentar seguir à risca a fórmula consagrada, diversos estúdios acabam abrindo mão de identidade própria. Mecânicas como perda de recursos após a morte, checkpoints punitivos, narrativa fragmentada e dificuldade extrema deixaram de ser escolhas de design e se tornaram quase exigências do público. O resultado é uma enxurrada de jogos tecnicamente competentes, mas criativamente previsíveis.
Desenvolvedores relatam que, ao anunciar um projeto inspirado em Dark Souls, as expectativas se tornam implacáveis. Qualquer desvio do modelo tradicional costuma gerar críticas imediatas, mesmo quando a proposta busca inovação. Isso cria um paradoxo curioso: o gênero que nasceu da ousadia e da quebra de padrões agora pune quem tenta fazer algo diferente dentro dele.
Outro ponto sensível é o impacto comercial. O termo “soulslike” ajuda no marketing, chama atenção e facilita a comunicação com o público. Ao mesmo tempo, prende o jogo a comparações diretas com obras-primas como Dark Souls, Bloodborne e Elden Ring. Comparações quase sempre injustas, já que poucos estúdios dispõem do mesmo orçamento, tempo e visão autoral da FromSoftware.
Há ainda a questão do desgaste. Quando tudo vira soulslike, o conceito perde força. Jogadores começam a sentir fadiga do modelo e passam a exigir algo além da dificuldade elevada. Jogos que não oferecem personalidade, mundo envolvente ou ideias novas acabam sendo esquecidos rapidamente, mesmo que funcionem bem tecnicamente.
Alguns estúdios já perceberam isso e tentam se libertar do rótulo, preferindo falar em inspirações pontuais em vez de assumir o título de soulslike. A intenção é clara: recuperar a liberdade criativa e permitir que cada projeto encontre seu próprio ritmo, suas próprias regras e, principalmente, sua própria identidade.
Fonte: GameInformer
