Documentos judiciais mostram que o estúdio holandês contratou antropólogos e criou manuais de estilo com até 200 páginas para cada tribo do jogo
O desenvolvimento de Horizon Forbidden West exigiu um investimento monumental da Guerrilla Games, superando a marca de 200 milhões de dólares. No entanto, novos documentos revelam que boa parte desse orçamento foi direcionada a um aspecto muitas vezes subestimado: a pesquisa cultural e artística por trás da criação das tribos que habitam o universo do jogo. As informações vieram à tona durante o processo judicial entre Sony e Tencent, no qual a empresa japonesa acusa a gigante chinesa de plagiar elementos de Horizon Zero Dawn.
Como parte de sua defesa, a Sony apresentou mais de 20 páginas de documentação interna destacando o extenso trabalho conceitual e de pesquisa desenvolvido pela Guerrilla. Entre os depoimentos, o diretor de arte Jan-Bart van Beek detalhou o grau de dedicação exigido para construir o mundo de Horizon Forbidden West. Segundo ele, cada tribo do jogo foi acompanhada por manuais de estilo variando entre 60 e 200 páginas, reunindo descrições completas sobre trajes, arquitetura, tradições, ornamentos e aspectos físicos dos personagens.
Antropologia e autenticidade cultural
Para alcançar um resultado autêntico e coeso, a Guerrilla contratou antropólogos especializados para estudar referências em culturas reais e adaptá-las ao contexto pós-apocalíptico de Horizon. O objetivo era fazer com que cada tribo não apenas parecesse visualmente distinta, mas também refletisse valores, rituais e modos de vida condizentes com seu ambiente e história. Esse cuidado é evidente nas diferenças entre grupos como os Nora, Tenakth e Utaru, cada um moldado de acordo com o bioma que habita. No caso dos Nora, por exemplo, van Beek revelou que suas vestimentas foram criadas a partir de uma combinação de peles, couro e placas metálicas, adornadas com bordados, plumas e materiais reaproveitados.
Cada escolha estética, das cores aos tecidos, foi pensada para reforçar sua identidade como caçadores espirituais ligados à natureza. O nível de pesquisa e detalhamento aplicado ao design de Horizon Forbidden West ajuda a explicar o alto custo de produção do projeto. Além dos avanços técnicos e da complexidade do mundo aberto, a Guerrilla priorizou a profundidade cultural e a verossimilhança visual, transformando o jogo em um dos exemplos mais ambiciosos de worldbuilding da indústria.
O caso judicial também ressalta como o investimento em autenticidade e representação cultural se tornou um elemento central na criação de grandes franquias, elevando não apenas o valor artístico, mas também o impacto narrativo dessas obras. Ao defender o legado de Horizon, a Sony reforça o argumento de que o universo da franquia é resultado de anos de pesquisa interdisciplinar, refletindo o padrão de qualidade que define os títulos de grande orçamento e a crescente exigência por imaginários culturais consistentes e respeitosos dentro dos videogames modernos.
