O avanço da inteligência artificial (IA) está transformando diversos setores — inclusive a indústria dos games. Grandes empresas como o Google seguem investindo pesado na tecnologia, como no recente lançamento do Veo 3, IA capaz de gerar vídeos realistas com áudio. No mundo dos jogos, estúdios também adotam soluções de IA para acelerar o desenvolvimento e cortar custos. Mas nem todos enxergam isso com bons olhos.
A atriz Ashly Burch, conhecida por dar voz à personagem Aloy em Horizon Zero Dawn e Mel em The Last of Us Part II, expressou preocupação com o uso de IA para substituir atores humanos em papéis menores dentro dos games, como NPCs ou personagens com falas simples.
“Tenho medo de que alguns desenvolvedores tentem usar IA para substituir atores em papéis nos quais eu ganhei experiência ao longo da minha carreira”, afirmou Burch em entrevista.
“Ficaria horrorizada em ver um jogo de mundo aberto inteiro em que todos os personagens fossem feitos por IA.”
O risco de um apagamento de talentos iniciantes
Segundo Burch, o uso de IA para dublar personagens secundários ou não-jogáveis pode limitar severamente o espaço para atores em início de carreira, que geralmente conquistam suas primeiras oportunidades nesses papéis menores. O receio é que, ao optar por soluções automatizadas, a indústria sufoque a renovação do talento humano.
“Se a gente começar a cortar tantos desses papéis que os atores mais jovens precisam para ganhar experiência e se desenvolver, vamos acabar perdendo a próxima geração de grandes talentos”, alerta.
Burch menciona como exemplos os diálogos breves de jogos multiplayer ou NPCs genéricos, que, segundo ela, correm maior risco de serem automatizados. Por exigirem menos sessões de gravação e pouca carga narrativa, podem ser considerados “substituíveis” por IA — um pensamento que, para a atriz, desvaloriza o trabalho humano e empobrece a experiência dos jogos.
Parte de uma luta maior
Ashly Burch também é uma das vozes atuantes na greve da SAG-AFTRA, o sindicato que representa atores e dubladores nos Estados Unidos. A paralisação busca garantias legais contra o uso não autorizado de performances por IA generativa — uma prática que levanta debates éticos e jurídicos cada vez mais urgentes.
Enquanto a inteligência artificial segue ganhando espaço na indústria dos games, profissionais como Burch pedem cautela. O dilema não está apenas na tecnologia em si, mas nas decisões humanas sobre como (e quando) ela deve ser aplicada.
Fonte: Games Radar