Acabei de assistir ao sétimo episódio da segunda temporada de The Last of Us e, sem exagero, posso dizer que ele entra fácil no meu Top 3 da série até aqui. Esse capítulo retrata o terceiro dia vivido pela Ellie — um dos dias mais intensos e emocionalmente marcantes do jogo, e que agora ganha vida em tela com um cuidado que me prendeu do início ao fim.
Menos ação, mais peso dramático
Pra quem jogou The Last of Us Part II, o terceiro dia da Ellie é cheio de ação. Na série, essa parte foi suavizada — e com razão. As sequências de combate no jogo são pensadas como gameplay, e não faria sentido tentar traduzi-las diretamente para a série sem que parecessem apenas violência gratuita.
O que sobrou aqui, felizmente, é o cerne emocional: a tensão crescente, o sentimento de desespero, o conflito interno da Ellie. A série entendeu que não precisava de tiroteios para manter a intensidade.

Ellie e Jesse: alfinetadas e afeto
A dinâmica entre Ellie e Jesse é um dos grandes destaques do episódio. A relação entre os dois é complexa: cheia de ironias, provocações, mas também de respeito e uma lealdade silenciosa.
Os diálogos funcionam porque não tentam reproduzir o jogo palavra por palavra — eles capturam o espírito da relação. A discussão sobre a vingança, por exemplo, é um momento em que vemos a obstinação da Ellie em contraste com a razão do Jesse. É um conflito humano, crível, e extremamente bem interpretado pelos dois.
O desvio da ilha dos Serafitas (e por que não funcionou)
Nem tudo brilhou nesse episódio. A sequência em que Ellie, por acidente, vai parar na ilha dos Serafitas foi, pra mim, o ponto mais fraco. Não só é uma adição que não existe no jogo, como também não contribui em nada para a trama.

A Ellie é capturada, levada pelos Serafitas, e logo depois libertada por causa de um ataque da WLF liderado por Isaac. Nenhuma consequência, nenhum aprendizado, nenhuma mudança. Foi um arco que começou e terminou em si mesmo — e isso, num episódio tão conciso, pesa como tempo perdido.
O aquário e a dor da Ellie
A volta ao aquário é uma das sequências mais fortes da temporada. Ali, a Ellie encontra Mel e Owen — e, sem saber, mata Mel, que está grávida.
É um momento difícil de assistir, e mais difícil ainda de digerir. A série optou por uma abordagem menos gráfica do que o jogo, mas ainda assim devastadora. E aqui, a Bella Ramsey entrega talvez sua melhor atuação até agora: a expressão dela ao perceber o que fez, o choque, a culpa, a dor — tudo sem uma palavra. Só respiração e olhos marejados.

O teatro e a chegada da Abby
O episódio termina com um dos momentos mais icônicos do jogo: a aparição da Abby no teatro. É uma cena feita com precisão quase milimétrica — quadro a quadro, como se fosse um remake ao vivo do que jogamos.
A tensão, a surpresa, o silêncio — tudo está lá. É um desfecho poderoso, e ainda traz um gancho direto pra terceira temporada: um pequeno teaser do “Dia 1” da Abby, que deve ser o ponto de partida da nova etapa da história.

Conclusão: um episódio que dói e permanece
Mesmo com os tropeços (como o desvio da ilha), esse episódio é um retrato fiel da essência de The Last of Us: a dor, o peso das escolhas, a humanidade despedaçada.
Ele me lembrou por que essa história é tão forte. Porque mesmo quando não tem ação, ela nos mantém no limite emocional. Porque mesmo quando a gente quer olhar pra outro lado, a série nos obriga a encarar. E porque, no fim das contas, todos os personagens — de Ellie a Abby — são só pessoas tentando sobreviver a si mesmas.