O terceiro episódio da segunda temporada de The Last of Us, exibido pela HBO Max, marca até o momento o capítulo que mais se distancia da visão original apresentada nos jogos da Naughty Dog. Embora mudanças sejam esperadas em qualquer adaptação, neste caso, o que se viu foi uma ruptura com a essência que tornou a franquia tão respeitada.
O impacto da vingança diluído pelo salto temporal
Um dos aspectos que mais me causou estranheza foi o salto de três meses entre o evento central e o início da jornada de vingança da Ellie. No jogo, essa reação ocorre praticamente no dia seguinte, preservando o impacto emocional e a urgência que impulsionam toda a narrativa.
Três meses é um tempo considerável — equivalente a quase um terço da campanha do primeiro jogo — e essa escolha enfraquece o sentimento de dor, justiça e imediatismo que o público deveria sentir. Em comparação, em The Last of Us Part II, Ellie parte em busca de respostas e vingança imediatamente, algo que reforça sua impulsividade e profundidade emocional.

A omissão de Tommy e a perda de sua essência
Outro ponto que comprometeu a adaptação foi a forma como Tommy foi retratado. No jogo, Tommy é prático e determinado: simula submissão às ordens de Maria apenas para, na sequência, agir de maneira independente, resultando no conflito direto com a WLF.
Na série, apesar de uma breve menção à necessidade de proteger Jackson, faltou ação, presença e emoção. Tommy parece omisso, quase indiferente à perda do irmão, o que contradiz completamente a sua caracterização original.
Bella Ramsey e a descaracterização da Ellie
É importante separar aparência física de caracterização. Não se trata aqui de estética, mas da essência da Ellie. A atuação de Bella Ramsey, neste episódio em particular, não capturou a força, a impulsividade e a inteligência emocional da personagem.
A Ellie dos jogos é intensa, corajosa, visceral. Na série, especialmente neste terceiro episódio, ela parece passiva, quase sem voz diante dos acontecimentos. Enquanto isso, personagens como Dina ganharam mais espaço e demonstraram maior postura e inteligência — invertendo dinâmicas que, nos jogos, tinham outro peso.
Essa não é a Ellie criada por Neil Druckmann e apresentada ao mundo em 2020.

The Last of Us mantém o cenário, mas altera a alma
As mudanças feitas pela série não estão apenas em eventos ou linhas de diálogo. Elas alteram a essência dos personagens — e isso impacta diretamente a experiência emocional.
Embora o plano de fundo da história tenha sido mantido, a forma como os personagens agem, sentem e reagem foi modificada. Para quem conhece e respeita a trajetória de The Last of Us Part II, isso gera um sentimento de desconexão inevitável.
Conclusão: o pior episódio até agora
Entre os três primeiros episódios da segunda temporada, o terceiro foi, na minha opinião, o mais fraco.
Não apenas pelas mudanças estruturais, mas principalmente pela perda da essência que definia os personagens.
Ainda restam quatro episódios pela frente, e como fã da obra original, torço para que a série consiga reencontrar o espírito que fez The Last of Us ser tão especial. Até aqui, especialmente no terceiro episódio, faltou muito para fazer jus ao que foi entregue nos jogos.